sábado, 31 de maio de 2014




Livro “O Português Afro-Brasileiro” para download gratuito. Obra é organizada pelos pesquisadores Dante Lucchesi, Alan Baxter e Ilza Ribeiro. Baixe aqui:http://goo.gl/9lRdD1

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ENTREVISTA COM PEDRO DEMO

“Se a criança é levada a buscar seu material, a fazer sua elaboração, a se expressar argumentando, a buscar fundamentar o que diz, a fazer uma crítica ao que vê e lê, ela vai amanhecendo como sujeito capaz de uma proposta própria.”

Não tente se vangloriar dos méritos de sua aula expositiva diante do educador Pedro Demo. Ele é categórico: não há educação nenhuma em assistir a aulas, tomar notas e ser avaliado no final do bimestre. A isso ele chama ora de instrução, ora de transmissão de conhecimento. Pior: para instruir, os professores seriam dispensáveis. A eletrônica cumpriria esse papel sem maiores problemas.

Defensor da educação reconstrutiva, Pedro Demo sustenta que o “nível educacional se atinge quando aparece um sujeito capaz de propor, de questionar”. Para despertar esse espírito na criança, ele receita muita pesquisa e incentivo à elaboração própria de cada aluno. Nesse cenário, a aula tem papel coadjuvante. Indispensável mesmo só é a orientação e o acompanhamento atento do professor.

Ele não acredita, porém, ser preciso insurgir-se contra a aula ou o modelo instrucionista. Sua morte está anunciada pela ascensão das novas tecnologias na educação. E prevê: “Vai ser muito difícil no futuro fazermos qualquer proposta educacional que não seja em parte virtual.” Mas não serão as novas tecnologias que vão salvar a pátria. Novamente, o grande desafio será inserir pesquisa e elaboração própria em um espaço de aprendizagem virtual.

Antes de embarcar para o Chile, onde desenvolve um trabalho na Universidade Educares, Pedro Demo concedeu a seguinte entrevista.

A primeira coisa que chama a atenção na educação reconstrutiva é o próprio nome. Por que não construtivismo simplesmente?

Pedro Demo - Eu guardo um profundo respeito pela proposta piagetiana chamada construtivismo. Mas eu prefiro o termo reconstrutivismo, porque é culturalmente mais plantado. Normalmente, a gente não produz conhecimento totalmente novo, no sentido de uma construção nova. Nós partimos do que já está construído, do que já está disponível, do conhecimento que está aí diante de nós e o refazemos, reelaboramos. Eu penso que o termo reconstrução é muito mais realista, só isso.

O pilar desse conceito é a importância da pesquisa no processo educacional, independentemente do nível de ensino. Como ela pode ser incorporada nos níveis mais elementares?

Pedro Demo - Primeiro, é preciso distinguir a pesquisa como princípio científico e a pesquisa como princípio educativo. Nós estamos trabalhando a pesquisa principalmente como pedagogia, como modo de educar, e não apenas como construção técnica do conhecimento. Bem, se nós aceitamos isso, então a pesquisa indica a necessidade da educação ser questionadora, do indivíduo saber pensar. É a noção do sujeito autônomo que se emancipa através de sua consciência crítica e da capacidade de fazer propostas próprias. Isso tudo tem por trás a idéia da reconstrução, mas também agrega todo o patrimônio de Paulo Freire e da “politicidade”, porque nós estamos na educação formando o sujeito capaz de ter história própria, e não história copiada, reproduzida, na sombra dos outros, parasitária. Uma história que permita ao sujeito participar da sociedade.

A pesquisa supõe uma reelaboração do conhecimento, ou seja, deve vir acompanhada de um processo de apreensão do conhecimento. Como a educação reconstrutiva concilia pesquisa e ensino?

Pedro Demo - Vamos colocar de outra maneira: você precisa de informação e de formação. Você não aprende sem vasculhar o que já está disponível. Mas a educação não é propriamente isso. Isso é meramente um processo informativo que pode ser feito pela eletrônica. Nem é preciso professor para meramente transmitir conhecimento. Mas o professor é absolutamente necessário para o processo reconstrutivo, como orientador, avaliador do aluno. A perspectiva muda bastante. O que nós estamos acostumados a ver no dia-a-dia é a proposta instrucionista, baseada no ensino, na instrução, no treinamento. Isso não é educação. Também é importante, também faz parte, mas o nível educativo se atinge realmente quando aparece um sujeito capaz de propor, de questionar. Precisamos de pesquisa e elaboração própria. São dois conceitos nos quais eu insisto bastante.

Mas no campo das práticas pedagógicas, como a pesquisa pode ser inserida no ensino fundamental, por exemplo?

Pedro Demo - Primeiro, fazendo recuar a aula, porque a aula é bem o signo da instrução, sobretudo a aula meramente expositiva, em que as crianças são obrigadas a assistir, tomar notas e fazer provas. Se você olhar bem, aí não ocorre nenhuma educação. Agora, se a criança também é levada a buscar seu material, a fazer sua elaboração, a se expressar argumentando, a buscar fundamentar o que diz, a fazer uma crítica ao que vê e lê, aí ela vai amanhecendo como sujeito capaz de ter uma proposta própria. Isso é o que queria, na verdade, Piaget. Ele sempre disse que a criança é um grande pesquisador: é curiosa, quer ver as coisas, quebra os brinquedos para ver o que tem lá dentro, pergunta muito. A escola é que, não sabendo disso, abafa essa vontade de conhecer que a criança tem.

O senhor afirma que a curiosidade infantil deve ser estimulada, instigada incessantemente pelo educador. Como isso deve ser feito?

Pedro Demo - Esta é uma das grandes competências do educador, saber aproveitar essa potencialidade enorme que a criança tem de querer conhecer, de aprender, de inventar coisas diferentes. Aí está então o que eu quero dizer com a pesquisa como princípio de todo o trajeto educativo. É claro que a pesquisa como princípio científico, da pessoa que está fazendo Ph.D., é muito diferente das pesquisas da pessoa que está na graduação e da criança que está no ensino fundamental, mas, se a gente aproxima a pesquisa como cultivo do saber pensar, ela deve estar em todos os atos educativos, seja da menor criança, seja da pessoa mais adulta.

O que o senhor quer dizer ao afirmar que, na educação reconstrutiva, a qualidade política deve prevalecer sobre a qualidade formal?

Pedro Demo - Eu acho qualidade formal muito importante. Não estou dizendo com isso que ela é secundária, muito pelo contrário. As crianças precisam saber matemática, ciências, português, mas ainda mais importante é saber o que fazer com isso na vida, como interferir na sociedade, como mudar os seus rumos, como superar a condição de massa de manobra, como tomar o seu destino na mão, como fazer uma proposta. Isso é muito importante. Aí está o papel fundamental da educação e do professor que sabe provocar essa reação na criança, uma reação de sujeito, não de objeto.

O senhor faz uma distinção entre competência e conhecimento. Como a educação reconstrutiva se posiciona diante dessa dicotomia?

Pedro Demo - Acho que não deve ser uma dicotomia, são coisas que convivem dialeticamente. Eu vejo a competência técnica como instrumental. O fim das coisas é a competência ética, política, quer dizer, formar uma sociedade mais participativa, onde todos têm mais chances, onde os horizontes sejam compartilhados. Mas para termos boas condições de intervenção política é muitíssimo importante manejar o conhecimento adequadamente.

Ainda sobre o tema da competência, uma pressão que a escola sofre é a cobrança para que os alunos saiam de lá instrumentalizados, isto é, sabendo fazer. Que opinião o senhor tem a esse respeito?

Pedro Demo - O saber pensar inclui sempre o saber intervir. Nós temos que recuperar um pouco a proximidade entre teoria e prática. Acontece que as escolas e universidades chamam de formação apenas o discurso teórico e incluem em seus currículos apenas uma pequena parte prática, chamada estágio ou coisa do gênero, extremamente desproporcional. É preciso saber colocar a prática já no primeiro semestre. Eu acho que essa expectativa é muito importante. Os alunos deveriam ter nas escolas a possibilidade de aplicar o conhecimento sem cair no utilitarismo. A melhor coisa para uma teoria é uma boa prática. E a prática que não volta para a teoria envelhece e fica caduca.

Mas como diminuir essa distância?

Pedro Demo - Nós temos uma tradição universitária de separar as duas coisas. Quando nós vamos estudar num campus, nós ficamos quatro anos longe da cidade, da vida, do trabalho para estudar. Acho que isso vai mudar muito no futuro, inclusive por causa da aprendizagem virtual. A gente não estuda só em certos momentos, em certas horas, em certos espaços, mas estuda a toda hora, durante a vida toda, com toda a parafernália disponível, sobretudo a eletrônica. Mas isso vai demandar uma reforma curricular muito mais radical do que nós estamos imaginando, hoje chamada Parâmetros Curriculares.

Um de seus últimos livros publicados trata da teleducação. Que papel têm as novas tecnologias nessa reforma radical a que o senhor se refere?

Pedro Demo - Primeiro, uma coisa que quero crer que esteja garantida é que o futuro da educação está na teleducação. Vai ser muito difícil no futuro fazermos qualquer proposta educacional que não seja em parte virtual. Não apenas virtual, isso seria um erro. Mas também não vai dar para fazer educação apenas com presença física. O grande dilema, hoje muito pouco resolvido, é introduzir na teleducação uma real aprendizagem. As pessoas precisam aprender, não apenas ser informadas. Vou dar o exemplo da teleconferência. Se a gente olhar bem, ela é uma aula, não é nada mais que uma aula, muitas vezes expositiva. Agora, tem coisas bonitas, porque dá uma grande chance de participação num grande espaço. Você pode conhecer gente interessante, fazer perguntas, mas, se a gente lembrar que aprendizagem exige pesquisa e elaboração própria, então continua sendo uma aula. A teleconferência é um bom instrumento supletivo, é uma boa proposta de disseminação de conhecimento, mas não substitui, em hipótese nenhuma, a aprendizagem

Isso me faz pensar em outro conceito que o senhor trabalha, de que a aula não é o centro da aprendizagem. As novas tecnologias estão decretando o fim das aulas expositivas e abrindo espaço aos debates, às discussões?

Pedro Demo - É, não precisa brigar com a aula, porque ela vai recuando naturalmente à medida que a eletrônica assume o espaço da informação. Transmitir conhecimento é uma coisa muito importante para a sociedade, mas o mundo eletrônico faz isso com mais graça, com mais disponibilidade que o professor. Daí não segue que o professor não seja importante. Ele é absolutamente indispensável para a aprendizagem do aluno, para a formação reconstrutiva, política do aluno. Por isso, a aula vai recuar. Eu até posso dizer que ela não vai desaparecer, mas vai ser cada vez mais um componente supletivo do processo de aprendizagem. É impossível colocar a aula no centro da aprendizagem.

Um dos exemplos que o senhor dá para desmistificar a importância da aula é o livro O Mundo de Sofia, de Jostein Gaardner. Por que um livro como esse consegue instigar o aluno a aprender e a aula expositiva não?

Pedro Demo - Nós podemos trabalhar muito melhor também só com textos. Geralmente, no Brasil, só se faz fichar livros, o que não tem nada de reconstrutivo. E O Mundo de Sofia mostra bem como um professor "escondido" motiva, provoca a criança. Ela se desespera, trabalha, dá duro, aprende muita coisa sem que o livro tenha uma aula, uma prova, e é uma aprendizagem soberba. Então, a escola tem que cuidar da aprendizagem e não dos apoios que os professores acham importantes, em particular ficar “escondido” atrás da aula. O professor de matemática tem o compromisso de fazer o aluno aprender matemática. O primeiro compromisso dele é garantir que o aluno aprenda matemática. Ele não pode ficar satisfeito, realizado, se os alunos não aprenderem. Dar aula é fácil, é só despejar conhecimento, às vezes apenas copiado. Mas fazer um aluno aprender é a grande arte do professor.


O senhor comentou anteriormente que o mundo eletrônico transmite informações com mais graça. Como o senhor vê o papel da motivação na aprendizagem?

Pedro Demo - Eu penso que é preciso, de todos os modos, motivar os alunos para a elaboração própria, para buscar a informação, para tomar a iniciativa. Porque se a gente tiver um ensino apenas passivo, como é usual hoje, as crianças não se preparam direito para a vida, pois não conseguem enfrentar coisas novas. Ao mesmo tempo, torna-se injusto com as novas gerações, que têm uma percepção muito maior pela imagem do que nós, da velha geração, que gostamos do texto. A nova geração se sentiria muito mais respeitada se pudesse construir o conhecimento através do texto, como é típico do mundo virtual. Então, os professores precisam se preparar para isso. Certamente os professores mais velhos terão mais dificuldade, mas nunca é tarde para aprender, e acho que a educação sempre teve diante de si esse desafio de aprender coisas novas. Não vai ser agora que nós vamos falhar nisso. Temos que dar conta das motivações que a nova geração prefere.

O senhor considera que saber ler as imagens, compreender a função que elas ocupam na transmissão do saber é uma área do conhecimento já desenvolvida, ou ainda há muito que fazer nesse campo?

Pedro Demo - O mundo da informática, como o do cinema, está trazendo isso. Nós temos uma história do cinema com mais de cem anos. Mas a academia não aceita a imagem como argumento. E nós deveríamos nos abrir a isso. Quando o texto chegou na história da humanidade, ele também foi taxado de intruso, de coisa esquisita, e hoje ninguém mais acha estranho fazer um texto, um livro. Então nós não podemos estar fechados a essa nova perspectiva. Eu estou dizendo que é preciso saber pensar não só com texto. A nova geração possivelmente prefere pensar através de imagens. Isso ajudaria muito a escola, e o trajeto da formação em qualquer nível traria maior motivação e maior atualização.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

MACHADO DE ASSIS

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu pobre e epilético. Era filho de Francisco José Machado de Assis e de Leopoldina Machado de Assis, neto de escravos alforriados. Foi criado no morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Ajudava a família como podia, não tendo freqüentado regularmente a escola.
Sua instrução veio por conta própria, devido ao interesse que tinha em todos os tipos de leitura. Graças a seu talento e a uma enorme força de vontade, superou todas essas dificuldades e tornou-se em um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.
 Entre os seis e os 14 anos, Machado perdeu sua única irmã, a mãe e o pai. Aos 16 anos empregou-se como aprendiz numa tipografia e publicou os primeiros versos no jornal "A Marmota". Em 1860, foi convidado por Quintino Bocaiúva para colaborar no "Diário do Rio de Janeiro". Datam dessa década quase todas as suas comédias teatrais e o livro de poemas "Crisálidas".
Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.
 
Em 12 de novembro de 1869 casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais. Esse casamento ocorreu contra a vontade da família da moça, uma vez que Machado tinha mais problemas do que fama. Essa união durou cerca de 35 anos e o casal não teve filhos. Carolina contribuiu para o amadurecimento intelectual de Machado, revelando-lhe os clássicos portugueses e vários autores de língua inglesa.
Na década de 1870, Machado publicou os poemas "Falenas" e "Americanas"; além dos "Contos Fluminenses" e "Histórias da meia-noite". O público e a crítica consagraram seus méritos de escritor. Publicou os romances: "Ressurreição" (1872); "A Mão e a Luva" (1874); "Helena" (1876); "Iaiá Garcia" (1878). Essas obras ainda estão ligadas à literatura romântica e formam a chamada primeira fase de Machado de Assis.
Em 1873, o escritor foi nomeado primeiro oficial da secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras públicas. A sua carreira burocrática teve uma ascensão muito rápida, uma vez que, em 1892, já era diretor geral do Ministério da Viação. O emprego público garantiu a estabilidade financeira, uma vez que viver de literatura naquela época era quase impossível, mesmo para os bons escritores.
Na década de 1880, a obra de Machado de Assis sofreu uma verdadeira revolução, em termos de estilo e de conteúdo, inaugurando o Realismo na literatura brasileira. Os romances "Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881); "Quincas Borba" (1891); "Dom Casmurro" (1899) e os contos "Papéis avulsos" (1882); "Histórias sem data" (1884), "Várias histórias" (1896) e "Páginas recolhidas" (1899), entre outros, revelam o autor em sua plenitude. O espírito crítico, a grande ironia, o pessimismo e uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira são as suas marcas mais características.
Em 1897, Machado fundou a Academia Brasileira de Letras, da qual foi o primeiro presidente, pelo que a instituição também conhecida como casa de Machado de Assis. Ocupou a Cadeira N.º 23, de cujo patrono, José de Alencar, foi amigo e admirador.
Em 1904, a morte de sua mulher foi um duro golpe para o escritor. Depois disso, raramente ele saía de casa e sua saúde foi piorando por causa da epilepsia. Os problemas nervosos e uma gagueira contribuíram ainda mais para o seu isolamento. São dessa época seus últimos romances "Esaú e Jacó" (1904) e "Memorial de Aires" (1908), que fecham o ciclo realista iniciado com "Brás Cubas"
Machado de Assis morreu em sua casa situada na rua Cosme Velho. Foi decretado luto oficial no Rio de Janeiro e seu enterro, acompanhado por uma multidão, atesta a fama alcançada pelo autor.
O fato de ter escrito em português, uma língua de poucos leitores, tornou difícil o reconhecimento internacional do autor. A partir do final do século 20, porém, suas obras têm sido traduzidas para o inglês, o francês, o espanhol e o alemão, despertando interesse mundial. De fato, trata-se de um dos grandes nomes do Realismo, que pode se colocar lado a lado ao francês Flaubert ou ao russo Dostoievski, apenas para citar dois dos maiores autores do mesmo período na literatura universal.

MONTEIRO LOBATO

Monteiro Lobato (1882-1948) foi um escritor brasileiro. "O Sitio do Picapau Amarelo" é uma de suas obras de maior destaque na literatura infantil. Foi um dos primeiros autores de literatura infantil em nosso país e em toda América Latina. Tornou-se editor, criando a "Editora Monteiro Lobato" e mais tarde a "Companhia Editora Nacional". Metade de suas obras é formada de literatura infantil.
Monteiro Lobato (1882-1948) nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Monteiro Lobato. Alfabetizado pela mãe, logo despertou o gosto pela leitura, lendo todos os livros infantis da biblioteca de seu avô o Visconde de Tremembé. Desde menino já mostrava seu temperamento irrequieto, escandalizou a sociedade quando se recusou fazer a primeira comunhão. Fez o curso secundário em Taubaté. Estudou no Instituto de Ciências e Letras de São Paulo.
Ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco na capital, em 1904. Na festa de formatura fez um discurso tão agressivo que vários professores, padres e bispos se retiraram da sala. Nesse mesmo ano voltou para Taubaté. Prestou concurso para a Promotoria Pública, assumindo o cargo na cidade de Areias, no Vale do Parnaíba, no ano de 1907.
Monteiro Lobato casou-se com Maria Pureza da Natividade, em 28 de março de 1908. Com ela teve quatro filhos, Marta (1909), Edgar (1910), Guilherme (1912) e Rute (1916). Paralelamente ao cargo de Promotor, escrevia para vários jornais e revistas, fazia desenhos e caricaturas. Ficou em Areias até 1911, quando muda-se para Taubaté, para a fazenda Buquira, deixada como herança pelo seu avô.
No dia 12 de novembro de 1912, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma carta sua enviada à redação, intitulada "Velha Praga", onde destaca a ignorância do caboclo, criticando as queimadas e que a miséria tornava incapaz o desenvolvimento da agricultura na região. Sua carta foi publicada e causou grande polêmica. Mais tarde, publica novo artigo "Urupês", onde aparece pela primeira vez o personagem "Jeca Tatu".
Em 1917 vende a fazenda e vai morar em Caçapava, onde funda a revista "Paraíba". Nos 12 números publicados, teve como colaboradores Coelho Neto, Olavo Bilac, Cassiano Ricardo entre outras importantes figuras da literatura. Muda-se para São Paulo, onde colabora para a "Revista do Brasil". Em seguida compra a revista e a transforma em editora. Publica em 1917, seu primeiro livro "Urupês", que esgota sucessivas tiragens. Transforma a Revista em centro de cultura e a editora numa rede de distribuição com mais de mil representantes.
No dia 20 de dezembro de 1917, publica no jornal O Estado de São Paulo, um artigo intitulado "Paranoia ou Mistificação?", onde critica a exposição de Anita Malfatti, pintora paulista recém chegada da Europa. Estava criada uma polêmica, que acabou se transformando em estopim do movimento modernista.
Monteiro Lobato, em sociedade com Octalles Marcondes Ferreira, funda a "Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato". Com o racionamento de energia, a editora vai à falência. Vendem tudo e fundam a "Companhia Editora Nacional". Lobato muda-se para o Rio de Janeiro e começa a publicar livros para crianças. Em 1921 publica "Narizinho Arrebitado", livro de leitura para as escolas. A obra fez grande sucesso, o que levou o autor a prolongar as aventuras de seu personagem em outros livros girando todos ao redor do "Sítio do Picapau Amarelo". Em 1927 é nomeado, por Washington Luís, adido comercial nos Estados Unidos, onde permanece até 1931.
Como escritor literário, Lobato destacou-se no gênero "conto". O universo retratado, em geral são os vilarejos decadentes e as populações do Vale do Parnaíba, quando da crise do plantio do café. Em seu livro "Urupês", que foi sua estreia na literatura, Lobato criou a figura do "Jeca Tatu", símbolo do caipira brasileiro. As histórias do "Sítio do Picapau Amarelo", e seus habitantes, Emília, Dona Benta, Pedrinho, Tia Anastácia, Narizinho, Rabicó e tantos outros, misturam a realidade e a fantasia usando uma linguagem coloquial e acessível.
O livro "Caçadas de Pedrinho", publicado em 1933, que faz parte do Programa Nacional Biblioteca na Escola, do Ministério da Educação, está sendo questionado pelo movimento negro, por conter "elementos racistas". O livro relata a caçada a uma onça que está rondando o sítio. "É guerra e das boas, não vai escapar ninguém, nem tia Anastácia, que tem cara preta". José Renato Monteiro Lobato morreu no dia 5 de julho de 1948, de problemas cardíacos.

Obras de Monteiro Lobato


Idéias de Jeca Tatu, conto, 1918
Urupês, conto, 1918
Cidades Mortas, conto, 1920
Negrinha, conto, 1920
O Saci, literatura infantil, 1921
Fábulas de Narizinho, literatura infantil, 1921
Narizinho Arribitado, literatura infantil, 1921
O Marquês de Rabicó, literatura infantil, 1922
O Macaco que se fez Homem, romance, 1923
Mundo da Lua, romance, 1923
Caçadas de Hans Staden, literatura infantil, 1927
Peter Pan, literatura infantil, 1930
Reinações de Narizinho, literatura infantil, 1931
Viagem ao Céu, literatura infantil, 1931
Caçadas de Pedrinho, 1933
Emília no País da Gramática, literatura infantil, 1934
História das Invenções, literatura infantil, 1935
Memórias da Emília, literatura infantil, 1936
Histórias de Tia Nastácia, literatura infantil, 1937
Serões de Dona Benta, literatura infantil, 1937
O Picapau Amarelo, literatura infantil, 1939

Fábulas de Monteiro Lobato


O Cavalo e o Burro
A Coruja e a Águia
O Lobo e o Cordeiro
O Corvo e o Pavão
A Formiga Má
A Garça Velha
As Duas Cachorras
O Jaboti e a Peúva
O Macaco e o Coelho
O Rabo do Macaco
Os Dois Burrinhos
Os Dois Ladrões
A caçada da Onça

Jeca Tatu


É no livro "Urupês", que Monteiro Lobato retrata a imagem do caipira brasileiro, onde destaca a pobreza e a ignorância do caboclo, que o tornava incapaz de auxiliar na agricultura. O Jeca Tatu é um flagrante do homem e da paisagem do interior. O personagem se tornou um símbolo nacionalista utilizado por Rui Barbosa em sua campanha presidencial de 1918. Na 4a edição do livro, Lobato pede desculpas ao homem do interior.

HISTÓRIA E CURIOSIDADES SOBRE AS ELEIÇÕES

Partidos

Fase monárquica - É a primeira fase e começou em 1837. As rebeliões provinciais da regência possibilitaram a formação de dois grandes partidos – o Conservador e o Liberal –, que dominaram a vida política até o final do Império. O aparecimento de um Partido Progressista e a fundação, em 1870, do Partido Republicano, completaram o quadro partidário do Império.
Segunda fase - Ocorreu na Primeira República, de 1889 a 1930. Nesta fase existiam partidos estaduais. Foram frustradas as tentativas de organização de partidos nacionais, entre estas a de Francisco Glicério, com o Partido Republicano Federal, e a de Pinheiro Machado, com o Partido Republicano Conservador.
Terceira Fase - A terceira formação partidária se deu na Segunda República, com agremiações nacionais de profunda conotação ideológica: a Aliança Nacional Libertadora e o Integralismo. A legislação eleitoral, pela primeira vez, fez referência à possibilidade de apresentação de candidatos por partidos ou por alianças de partidos.
Quarta Fase - Com o golpe de 1937 e a instalação da Terceira República, houve o único hiato em nossa trajetória partidária. Com a Quarta República, a redemocratização trouxe, em 1945, a exclusividade da apresentação dos candidatos pelos partidos políticos. Nessa, que seria a quarta formação partidária do País, ocorreu a explosão de um multipartidarismo com 13 legendas.
Quinta Fase - O golpe militar de 1964 iniciou a quinta fase partidária, com o bipartidarismo, que segundo alguns teria sido "uma admiração ingênua do Presidente Castello Branco pelo modelo britânico" e segundo outros teria sido uma "mexicanização". A Arena seria assim o projeto brasileiro de um futuro PRI (Partido Revolucionário Institucional). As sublegendas – mecanismo utilizado para acomodar as diferenças internas nos dois partidos de então, Arena e MDB – foram copiadas do modelo uruguaio. Imitação do sistema alemão.
Sexta Fase - Se deu pela reforma de 1979. Buscou-se imitar o sistema alemão de condicionar a atuação dos partidos ao alcance de um mínimo de base eleitoral.
Sétima Fase - É a atual e começou em 1985, com a Emenda Constitucional nº 25, com o alargamento do pluripartidarismo.

Leis

Primeira Lei Eleitoral do Império - A primeira Lei Eleitoral do Império, de 1824, manda proceder à eleição dos deputados e senadores da Assembléia Geral Legislativa e dos membros dos conselhos gerais das províncias.
A votação foi feita por lista assinada pelos votantes, que continha tantos nomes quantos fossem os eleitores que a paróquia deveria dar. O voto era obrigatório. No caso de impedimento, o eleitor comparecia por intermédio de seu procurador, enviando sua lista assinada e reconhecida por tabelião.
O voto por procuração só deixou de existir em 1842, época em que se estabeleceram as juntas de alistamento, formadas por um juiz de paz do distrito, que era o presidente, um pároco e um fiscal.
Lei dos Círculos e Lei do Terço - Em 1855, foi instituído o voto distrital, por meio da chamada Lei dos Círculos. A Lei do Terço, de 1875 (que tem seu nome derivado do fato de que o eleitor votava em dois terços do número total dos que deveriam ser eleitos).
Todo eleitor que estiver fora de seu domicílio eleitoral no dia da eleição tem de justificar sua ausência. Para isso basta que, no dia da votação, se dirija a qualquer local destinado ao recebimento de justificativa eleitoral e entregue o Formulário Requerimento de Justificativa Eleitoral devidamente preenchido. Vale lembrar que é necessário levar o título eleitoral e um documento oficial de identificação com foto.
A República Velha (1889-1930) - A Proclamação da República inaugurou um novo período da nossa legislação eleitoral, que passou a inspirar-se em modelos norte-americanos.
A primeira inovação eleitoral trazida pela República foi a eliminação do "censo pecuniário" ou "voto censitário". Em 1890, o chefe do governo provisório, Marechal Deodoro da Fonseca, promulgou o regulamento eleitoral organizado por Aristides Lobo, o Decreto nº 200-A, considerado a primeira Lei Eleitoral da República e que tratava unicamente da qualificação dos eleitores.
Regulamento Alvim - Faltava ainda uma lei que presidisse a eleição dos constituintes, marcada para setembro. Em 23 de junho de 1890, ela foi publicada. Ficou conhecida como "Regulamento Alvim", em referência ao ministro e secretário de Estado dos Negócios do Interior, José Cesário de Faria Alvim, que a assinou.
O art. 62 dessa lei dispunha: "Aos cidadãos eleitos para o primeiro Congresso, entendem-se conferidos poderes especiais para exprimir a vontade nacional acerca da Constituição publicada pelo Decreto nº 510, de 22 de junho do corrente, bem como para eleger o primeiro presidente e o vice-presidente da República".
Eleição de Deodoro - Eleita em 15 de setembro de 1890, uma das primeiras tarefas da constituinte foi dar respaldo ao governo provisório, promulgando a Constituição de 1891 e elegendo Deodoro da Fonseca no dia seguinte.
A primeira Constituição Republicana criou o sistema presidencialista, em que o presidente e o vice-presidente deveriam ser eleitos pelo sufrágio direto da nação, por maioria absoluta de votos; atribuiu ao Congresso Nacional a regulamentação do processo eleitoral para os cargos federais em todo o país e aos estados a legislação sobre eleições estaduais e municipais.
A "política dos governadores" - Durante a Velha República, também chamada de Primeira República, prevaleceu um esquema de poder que ficou conhecido como "política dos governadores", montado por Campos Salles, eleito em 1898: o presidente da República apoiava os candidatos indicados pelos governadores nas eleições estaduais e estes davam suporte ao indicado pelo presidente nas eleições presidenciais.
Coronelismo - O plano dependia da ação dos coronéis, grandes proprietários de terras cujo título derivava de sua participação na Guarda Nacional (instituição que durante o Império assegurava a ordem interna).
"Degolas" - O trabalho da Comissão de Verificação de Poderes do Congresso consistia, na realidade, em negação da verdade eleitoral, pois representava a etapa final de um processo de aniquilamento da oposição, chamado de "degola", executado durante toda a República Velha.
Justiça Eleitoral - Em 1916, o Presidente Wenceslau Brás, preocupado com a seriedade do processo eleitoral, sancionou a Lei nº 3.139, que entregou ao Poder Judiciário o preparo do alistamento eleitoral. Por confiar ao Judiciário o papel de principal executor das leis eleitorais, muitos percebem nessa atitude o ponto de partida para a criação da Justiça Eleitoral, que só viria a acontecer em 1932.

Curiosidades

Celina, a primeira mulher a ter direito ao voto- Com o advento da Lei nº 660, de 25 de outubro de 1927, o Rio Grande do Norte foi o primeiro Estado que, ao regular o "Serviço Eleitoral no Estado".
E estabeleceu que não haveria mais "distinção de sexo" para o exercício do sufrágio.Segundo pesquisa do escritor João Batista Cascudo Rodrigues, o histórico despacho foi vazado nestes termos:
"Tendo a requerente satisfeito as exigências da lei para ser eleitora, mando que inclua-se nas listas de eleitores. Mossoró, 25 de novembro de 1927." — Israel Ferreira Nunes
Aprovada a Lei, várias mulheres requereram suas inscrições e a 25 de novembro de 1927. As eleitoras compareceram às eleições de 5 de abril de 1928, mas seus votos foram anulados pela Comissão de Poderes do Senado. Somente com o Código Eleitoral de 1932, é que "o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo…" poderia votar efetivamente.
Quanto à questão de ter se tornado, de repente, a primeira mulher do país a votar, Celina confessou:
"Eu não fiz nada! Tudo foi obra de meu marido, que empolgou-se na campanha de participação da mulher na política brasileira e, para ser coerente, começou com a dele, levando meu nome de roldão. Jamais pude pensar que, assinando aquela inscrição eleitoral, o meu nome entraria para a história. E aí estão os livros e os jornais exaltando a minha atitude. O livro de João Batista Cascudo Rodrigues - A Mulher Brasileira - Direitos Políticos e Civis - colocou-me nas alturas. Até o cartório de Mossoró, onde me alistei, botou uma placa rememorando o acontecimento. Sou grata a tudo isso que devo exclusivamente ao meu saudoso marido."
Presidente do TSE, presidente do Brasil - Você sabia que, há 61 anos, um presidente do TSE exerceu o cargo de presidente da república?
O ministro José Linhares tomou posse, no posto máximo do executivo federal em 31 de janeiro de 1946, devido a um golpe liderado pelo general Góis Monteiro, que afastou Getúlio Vargas da presidência e transmitiu o poder ao presidente do STF.
Pressionado por setores políticos oposicionistas e por movimentos civis, em prol da redemocratização, Getúlio Vargas anunciou a realização de eleições. No entanto, o próprio Getúlio comunicou ao ministro da guerra, Góis Monteiro, que decidira “interromper o processo eleitoral que se desenvolvia no país, por considerar inoportunas as eleições de 2 de dezembro de 1945”. Foi o estopim para o golpe quer depôs Getúlio Vasgas e transmitiu o poder ao presidente do STF, que, por força do disposto no decreto-lei n.º 7.586/45, também era o presidente do TSE. José Linhares permaneceu no cargo até 31 de janeiro de 1946.
A primeira prefeita do Brasil - D. Alzira Soriano de Souza foi a primeira mulher a ocupar um cargo eletivo na América do Sul eleita para o cargo de prefeito do município de Lajes, no Rio Grande do Norte.
Eleita com mais de 60% dos votos, a eleição dela foi tema do jornal The New York Times, que atribuiu a eleição da primeira mulher na América Latina à influência do movimento sufragista americano no Brasil.
Brasil, 500 anos de voto - O livre exercício do voto surgiu em terras brasileiras logo depois da chegada dos colonizadores, como resultado da tradição portuguesa de eleger os administradores dos povoados sob domínio luso.
Os colonizadores portugueses, mal pisavam a nova terra descoberta, passavam logo a realizar votações para eleger os que iriam governar as vilas e cidades que fundavam. Os bandeirantes paulistas, por exemplo, iam em suas missões imbuídos da idéia de votar e de serem votados. Quando chegavam ao local em que deveriam se estabelecer, seu primeiro ato era realizar a eleição do guarda-mor regente. Somente após esse ato eram fundadas as cidades, já sob a égide da lei e da ordem. Eram estas eleições realizadas para governos locais.
As primeiras eleições - As eleições para governanças locais foram realizadas até a Independência. A primeira de que se tem notícia aconteceu em 1532, para eleger o Conselho Municipal da Vila de São Vicente/SP.
As pressões populares e o crescimento econômico do país, contudo, passaram a exigir a efetiva participação de representantes brasileiros nas decisões da corte. Assim, em 1821, foram realizadas eleições gerais para escolher os deputados que iriam representar o Brasil nas cortes de Lisboa. Essas eleições duraram vários meses devido ao sistema utilizado à época: o de quatro graus, isto é, que os cidadãos de cada freguesia (sem restrição de votos) nomeavam os compromissários; que por sua vez escolhiam os eleitores de paróquia, e estes designavam os eleitores da comarca, e, finalmente, estes últimos elegiam os deputados. Por conta da morosidade do processo algumas províncias sequer chegaram a eleger seus deputados.
Bandos, antes de partidos políticos - Os partidos políticos no Brasil têm suas origens nas disputas entre duas famílias paulistas, a dos Pires e a dos Camargos, representados ao lado no desenho de Wasth Rodrigues.
Eram verdadeiros bandos, com o uso da força e da violência, eles formaram os primeiros grupos políticos rivais. A expressão "partido político" só passou a constar nos textos legais a partir da Segunda República. Até então, só se falava em "grupos". Admitiram-se durante muito tempo candidaturas avulsas, porque os partidos não detinham a exclusividade da indicação daqueles que iriam concorrer às eleições, o que só ocorreu após a edição do Decreto-Lei nº 7.586, que deu aos partidos o monopólio da indicação dos candidatos.
Nas primeiras eleições em 1821, a pessoa que quisesse ser eleitor, ou candidato a deputado da Assembléia Constituinte e Legislativa do Brasil(único cargo eletivo na ocasião) tinha que se adequar a algumas exigências, tais como:
  • Ser maior de 25 anos;
  • Para ser eleitor era necessário ter uma renda anual mínima (voto era censitário);
  • Para se eleger deputado exigia-se que se tivesse renda líquida de 400 mil réis e que professasse a religião católica apostólica romana.
A constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, estabelecia eleições indiretas em dois graus:
* Onde votantes deveriam eleger os eleitores das províncias e estes os representantes da nação e província.
* Os libertos que tivessem a renda exigida podiam votar nas eleições de 1ºgrau, mas escravos e mulheres não.
* Os deputados eleitos fariam parte das Cortes Gerais extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa com o objetivo de redigir e aprovar a 1ª carta constitucional da monarquia portuguesa.
O Tribunal Superior Eleitoral, em publicação no Diário de Justiça, recomendou aos seus servidores que se abstivessem de discussões e conversas no recinto da repartição sobre assuntos de orientação e política partidária. Esta determinação aconteceu no ano de 1955.

MORTE DE ERIC HOBSBAWN

Eric Hobsbawn - 95 anos
Em entrevista à imprensa, a filha de Hobsbawn, Julia, disse que seu pai morreu no início da manhã no Royal Free Hospital, onde ele se tratava de uma pneumonia. "Sua ausência será imensamente sentida não só por sua esposa de mais de 50 anos, Marlene, por seus três filhos, sete netos e bisnetos, mas também por muitos leitores e estudantes ao redor do mundo", informou um comunicado da família. A reputação do historiador deve-se, principalmente, a quatro obras escritas por ele, entre elas "Era dos Extremos: o Breve Século 20: 1914 - 1991", livro que foi traduzido em 40 línguas.

De família judia, Hobsbawm nasceu na cidade de Alexandria, no Egito, em 1917, o mesmo ano da Revolução Russa, que representou a derrocada do czarismo e o início do comunismo no país. Não por coincidência, a vida do historiador e seus trabalhos foram moldados dentro de um compromisso duradouro com o socialismo radical. O pai de Hobsbawm, o britânico Leopold Percy, e sua mãe, a austríaca Nelly Grün, mudaram-se para Viena, na Áustria, quando o historiador tinha dois anos e, logo depois, para Berlim, na Alemanha.

Hobsbawm aderiu ao Partido Comunista aos 14 anos, após a morte precoce de seus pais. Na ocasião, ele foi morar com seu tio. Em 1933, com o início da ascensão de Hitler na Alemanha, ele e seu tio mudaram-se para Londres, na Inglaterra. Após obter um PhD da Universidade de Cambridge, tornou-se professor no Birkbeck College em 1947 e, um ano depois, publicou o primeiro de seus mais de 30 livros. Hobsbawm foi casado duas vezes e teve três filhos, Julia, Andy e Joshua.

Na década de 80, Hobsbawm comentou sobre sua fuga da Alemanha. "Qualquer um que viu a ascensão de Hitler em primeira mão não poderia ter sido ajudado, mas moldado por isso, politicamente. Esse garoto ainda está aqui dentro em algum lugar - e sempre estará".

Obra

Entre as obras mais conhecidas de Hobsbawm, estão os três volumes sobre a história do século 19 e "Era dos Extremos", que cobriu oito décadas da Primeira Guerra Mundial ao colapso da União Soviética. Já como presidente do Birkbeck College, ele publicou seu último livro, "Como mudar o mundo - Marx e o marxismo 1840-2011", no ano passado.

O historiador afirmou que ele tinha vivido "no século mais extraordinário e terrível da história humana". Marxista inveterado, ele reconheceu a derrocada do comunismo no século 20, mas afirmou não ter desistido de seus ideais esquerdistas. Em abril deste ano, Hobsbawm disse ao colega historiador Simon Schama que ele gostaria de ser lembrado como "alguém que não apenas manteve a bandeira tremulando, mas quem mostrou que ao balançá-la pode alcançar alguma coisa, ao menos por meio de bons livros".

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Olá meus jovens! A proposta desta semana é conversar um pouco sobre diversas situações que nos "atacam" nesta reta final. Um dos pontos temáticos de nossa sociedade é o planejamento. Como forma de injetar uma problemática e discussão acerca dela, no post abaixo há um texto que serve como inicial. Gostaria que dissertassem tendo alguns pontos como referência, que coloco aqui, escolha um destes e seja feliz.... temos até o dia 05/10/2012!
 


Leia trecho da fábula Alice no país das maravilhas.
Alice encontra o Gato de Cheshire (Cheshire é um lugar da Inglaterra), um gato que aparece e desaparece, às vezes de repente, às vezes aos poucos, deixando apenas um sorriso no ar. Alice pensa que já viu muitos gatos sem sorriso algum, mas nunca viu um sorriso sem gato. Alice pergunta ao gato qual caminho ela toma para sair dali. O gato responde que isso depende para onde ela quer ir. Alice fala que não importa, quer apenas sair dali. O gato responde que, nesse caso, qualquer caminho serve. (CAROLL, Lewis. Alice no país das maravilhas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.)


Pode-se inferir do relato do diálogo entre Alice e o Gato que:

1. o fracasso de um planejamento é conseqüência da falta de um conjunto de objetivos claramente definidos.


2. para definir um planejamento, não há necessidade de mensurar os objetivos.

3.  o resultado de um planejamento independe dos objetivos estabelecidos.
 
4. os objetivos são resultados imediatos que se pretende atingir quando se estabelece um planejamento.
 
 

TRABALHO COLETIVO 3

 O dilema de Alice
Alice: Poderia me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui?
Gato: Isso depende muito do lugar para onde você quer ir.
Alice: Não me importa muito onde.
Gato: Nesse caso, não importa por qual caminho você vá.
Gato: O que importa é você ter força para chegar lá.

Quando se aproxima a conclusão do ensino médio para muitos brasileiros é dada a largada na corrida em busca da aprovação no vestibular, a porta de entrada para a universidade e, na vida dos jovens, um passo importante para o futuro. Nesse momento começam também as neuroses mais acentuadas, as crises de ansiedade e as expectativas que tomam conta dos vestibulandos e fazem desse processo de seleção um momento cercado de angustias e incertezas.
Nas últimas décadas cresceu consideravelmente a concorrência nas principais instituições públicas de ensino superior, e por outro lado aumentaram também as facilidades de se conseguir uma vaga mesmo em universidades privadas. Cresceu junto o “mercado do vestibular” e com ele cursinhos, revisões, materiais de apoio e tudo o que se possa imaginar, isso sem falar das escolas que oferecem turmas de ensino médio e que passaram a investir pesado na preparação para o vestibular. Além de tudo, há pouco tempo o Enem, a famosa prova de avaliação do ensino médio, passou a ser também uma porta de entrada ao ensino superior.
Com toda essa gama de possibilidades diante de um jovem que beira aos 17 ou 18 anos, surge uma grande questão que tem ganhado força nos últimos anos: será que nessa idade já é possível ter certeza daquilo que se quer fazer pelo resto da vida? A vida exige continuamente respostas de nós, e todas as nossas respostas dependem da nossa escolha essencial, do nosso primeiro “sim”, por que só a partir dele podemos dizer “não”.
A falta de motivações suficientes leva, de fato, muita a gente a desistir pelo meio do caminho, ou até mesmo a se perder nele, muitos universitários que abandonam ou trocam de curso e muita gente infeliz na sua própria escolha. É preciso saber aonde se quer chegar por que são muitos os caminhos, porém se não se sabe aonde se quer ir qualquer caminho serve, lembra o Gato de Cheshire do clássico infantil “Alice no País das Maravilhas”.
A dinâmica de mundo hoje é a “sociedade do fast food”, tudo se dá de maneira incrivelmente veloz, inclusive as escolhas. E há quem diga que o importante não é, em si, entrar na universidade, isso é uma idéia que vem depois, o importante mesmo é passar no vestibular, e que os planos e projetos têm de estar de acordo com o nível de vida que se quer ter, o que leva muita gente a procurar os cursos de maior visibilidade no mercado simplesmente para construir carreira e ganhar muito dinheiro, mas isso não é tudo.
É bem verdade que as possibilidades são muitas e cada dia aumentam mais, e são como aquela garotinha a beira da praia recolhendo conchas, quando avista a mais bela estrela-do-mar é incapaz de pega-la, pois já está com as mãos cheias.
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

20 DE SETEMBRO

Durante a chamada Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul (1835-45), quando um homem livre era chamado a servir tanto nas forças rebeldes quanto nas imperiais, podia enviar em seu lugar (ou no lugar de um filho seu) um de seus trabalhadores escravizados. Em alguns casos, o alforriavam e alistavam. Também foi prática comum buscar atrair ou tomar cativos das tropas inimigas, trazendo-os para seu lado. O primeiro exército a utilizar negros escravizados como soldados foram os imperiais. Precisando também formar uma infantaria e sobretudo preferindo enviá-los como bucha-de-canhão, morrendo na frente em seu lugar, farrapos também os alistaram: eram os famosos Lanceiros Negros. Ambos, farrapos ou imperiais, prometiam também liberdade aqueles que desertassem das tropas rivais, mudando de lado.
A maioria dos cativos que combateu nesta guerra foi obrigada a fazê-lo diante das condições impostas. Por outro lado, apesar da guerra ser horrível e violenta, era até preferível a vida militar, com seus esporádicos combates, do que as agruras diárias da escravidão. A promessa de liberdade após o fim da luta certamente pode ter influenciado em muito o recrutamento daqueles homens. Uma promessa, aliás e como veremos, jamais cumprida.
Não havia igualdade nas tropas farroupilhas, muito menos democracia racial. Negros e brancos marchavam, comiam, dormiam, lutavam e morriam separadamente. Os oficiais dos combatentes negros eram brancos, e jamais um negro chegou a um posto significante, mesmo que intermediário, de comando. Aos Lanceiros Negros era vedado o uso de espadas e armas de fogo de grande porte. Não lutavam a cavalo, como costumam mostrar nos filmes e mini-séries de TV, mas sim a pé, pois havia o risco de se rebelar ou fugir. Sua arma principal era a grande lança de madeira que lhes deu nome e fama, algumas facas, facões, pequenas garruchas, os pés descalços, a bravura e o anseio pela liberdade prometida.
Seria anacronismo se quiséssemos que líderes farroupilhas tivessem um comportamento ou posições políticas avançadas e assim diferentes das existentes em seu tempo, mas defesa da Abolição da escravidão era bem conhecida e nada alienígena na época. Uma Abolição começou a ser decretada em Portugal em 1767, proibindo que fossem enviados para o reino mais cativos vindos da África, e em 1773 foi decretada uma Lei do Ventre Livre naquele país. Na Dinamarca, isso se deu em 1792. Na França, em 1794 (ainda que Napoleão tenha tentado restabelecer a escravidão no Haiti em 1802). No México, uma primeira tentativa de Abolição foi feita em 1810, mas foi finalmente vitoriosa em 1829. Bolívar libertou cativos em 1816-7, durante suas lutas por independência, e finalmente aboliu a escravatura em 1821. A Inglaterra, que havia findado a escravidão pouco antes da Revolta dos Farrapos, pressionava o Brasil pelo fim do tráfico negreiro desde 1808. Willian Wilbeforce, um dos maiores abolicionistas da história, morreu em 1833, ou seja, dois anos antes da guerra no Sul do Brasil. Farrapos, portanto, conheciam, sim, e muito bem o abolicionismo.
Entretanto,os principais chefes farrapos, Bento Gonçalves, Canabarro, Gomes Jardim e até Netto, dentre outros, eram todos ferrenhos escravistas. Quando aprisionado e enviado para a Corte no Rio de Janeiro, Bento Gonçalves teve o direito de levar consigo um de seus cativos para lhe servir. Ao morrer, o mais conhecido líder farroupilha deixou terras, gado e quase cinqüenta trabalhadores escravizados de herança aos seus familiares. Bem diferente do que fizera Artigas no Uruguai anos antes, os farrapos jamais propuseram uma reforma agrária ou mesmo uma distribuição de terras entre seus soldados, mesmo os brancos pobres, que dirá os negros. A defesa da escravidão era tão clara entre os chefes farrapos a ponto deles jamais sequer terem mencionado o fim do tráfico negreiro.
Ao fim da guerra e já quase totalmente derrotados, os farrapos incluíram entre suas exigências para o Império o cumprimento da promessa de liberdade que haviam feitos aos Lanceiros (principalmente porque temiam que eles formassem uma guerrilha negra na província já que a quebra da promessa os faria se rebelar ou fugir para o Uruguai, destino comum de diversos cativos fugitivos na época). Queriam entregar-se ao Império, acabar a guerra, voltar à normalidade, mas tinham os Lanceiros e a promessa que lhes haviam feito, e o Império, escravista até a medula, não queria cumprir essa parte do acordo.
Que fazer então? A questão foi resolvida na madrugada de 14 de novembro de 1844, quando o general farrapo David Canabarro entregou seus Lanceiros desarmados ao inimigo, tudo previamente combinado com Caxias. E no serro de Porongos, hoje região de Pinheiro Machado (interior do Rio Grande do Sul), foi dizimada quase toda a infantaria negra, enterrando de vez a preocupação dos farrapos e acelerando assim a paz com o Império. A instrução de Caxias a um de seus comandados foi clara e objetiva: a batalha teria que ser conduzida de forma tal que poupar apenas e dentro do possível o sangue de brasileiros (e o negro era então tratado como africano, mesmo que já nascido no Brasil).
Alguns historiadores apologistas ou folcloristas de CTGs consideraram aquela traição como Surpresa, já que pela primeira vez que o então vigilante Davi Canabarro teria sido surpreendido pelo inimigo. Conversa fiada! Enquanto dispôs suas tropas negras de tal maneira que ficassem desarmadas e descobertas, algo que até então nunca havia feito, Canabarro se encontrava bem longe e seguro do local, nos braços de Papagaia, alcunha de uma amante sua.
Após o combate, um relato oficial avisou a Caxias que pelo menos 80% dos corpos caídos no campo de Porongos eram de homens negros. Calcula-se que, nos últimos anos daquela conflito, os farrapos ao todo somavam uns cinco mil homens, sendo que algo em torno de mil eram Lanceiros Negros. Após o Massacre de Porongos, porém, restaram apenas uns 120 deles, feridos, alguns mutilados, e que foram primeiramente enviados para uma prisão no centro do país e depois dispersados para outras províncias, ainda mantidos como cativos.
Feito isso, deu-se a chamada rendição e paz do Poncho Verde, onde senhores escravistas dos dois lados trocaram abraços e promessas de lealdade e, logo depois, marcharam juntos e sob a mesma bandeira imperial contra o Uruguai, Argentina e Paraguai.

Bibliografia
FACHEL, José Plínio Guimarães. Revolução Farroupilha. Pelotas: EGUFPEL, 2002.
FERREIRA, Hemerson. Da Revolta à Semana Farroupilha: entre tradição e a história. http://prod.midiaindependente.org/en/blue/2009/08/451359.shtml
FLORES, Moacyr & FLORES, Hilda Agnes. Rio Grande do Sul: aspectos da Revolução de 1893. Porto Alegre: Martins-Livreiro, 1993.
GOLIN, Tau. Bento Gonçalves, o herói ladrão. Santa Maria: LGR, 1983.
LEITMAN, Spencer. Raízes sócioeconómicas da Guerra dos Farrapos: um capítulo da história do Brasil no século XIX. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
MAESTRI, Mário. "O negro escravizado e a Revolução Farroupilha". In: O escravo gaúcho: resistência e trabalho. Porto Alegre: UFRGS, 1993, pp76-82.

sábado, 15 de setembro de 2012

TRABALHO COLETIVO 2

Pessoal o primeiro trabalho foi bem produtivo, embora alguns apenas fizessem um apanhado do que existe na internet. Neste segundo desejo que façam uma reflexão sobre o texto abaixo retirado da revista Carta Capital. Usem o método dissertativo, sejam criativos, sejam felizes...
 

A FELICIDADE A QUALQUER PREÇO

No último sábado, andei por uma loja infantil de shopping center à procura de presentes para a filha de uns vizinhos que, no dia seguinte, completaria sete anos. Entre incontáveis prateleiras de brinquedos que cantam, dançam, gingam e contam piadas, havia uma pequena bancada com alguns livros que me chamou a atenção – e onde achei que encontraria, talvez, o presente mais original entre tantos das prateleiras.
Ao perceber minha curiosidade, a vendedora se aproximou e mostrou todos os exemplares de uma coletânea, feita para o público infantil, de histórias sobre princesas. Que, além de histórias, traziam seções de recorta-e-cola e espaços para colorir coroas em tamanho real, vestido, sapato, flores, arranjos. Tudo de princesa para princesa, ela explicou.

 
"Melancolia"
Olhei em volta e me dei conta da infinidade de referências a castelos e principados ao meu redor. Desisti do livro, imaginando que os sete anos já teriam sido tempo suficiente para desimpregnar o sonho do conto de fadas eventualmente já convertido em maturidade pela vizinha e as amigas da mesma idade.
Mudei de ideia ao ver, no dia seguinte, já no salão de festas, a mesma infinidade de referências aos encantos que imaginava enterrados. Era a perpetuação, flagrada na origem, das mesmas histórias sobre triunfos e heroísmos protagonizados por pessoas que há muito deixaram os sete anos e hoje narram os feitos de seus esforços homéricos para alugar palácios reais e preparar as melhores festas de casamento, aniversários ou festas de 15 anos em redutos plebeus.
É possível que o enfado em torno das conversas sobre investimento, retorno, conversas sobre a geometria da casa própria, álbum de fotos, buquês, brindes e limusines não tirasse da cama a melancolia de Justine, personagem vivida por Kirsten Dunst em “Melancolia”, no filme feito sob medida por Lars von Trier para ilustrar nossos dias de buscas por encantos eternos para preencher vidas vazias, e comuns. Não é à toa que, como lembra o filósofo Vladimir Safatle, em artigo recente na Folha de S.Paulo, que Lars Von Trier seja hoje um dos poucos cineastas “realmente necessários para nossa época”, capaz de provocar as melhores reflexões contemporâneas sobre moralidade e seus impasses.
No longa, o primeiro sinal de que algo está deslocado na indústria de sonhos pré-fabricados é lançado logo no início, quando a limusine que leva Justine e o marido Michael (Alexander Skarsgård) à festa de casamento – num casarão cercado por lagos, prados e campos de golfe – emperra numa estrada estreita, lamacenta e cheia de pedras. A limusine, como os sonhos, parece grande demais para uma realidade que se apresenta árida. Poucos ao redor de Justine parecem se dar conta disso, exceto ela – que, por motivos aparentemente incompreensíveis, mal disfarça o mal-estar dentro de seu próprio dia de princesa.
Cena do filme
Na impecável festa preparada para ela, patrocinada por um cunhado, John (Kiefer Sutherland) – o dono do casarão que não se cansa de dizer que a cerimônia lhe custou os olhos da cara – tudo parece sair das páginas de um livro baseado em sonhos. Do arranjo às músicas, passando pelos discursos sobre amores eternos feitos pelo marido, Lars von Trier cuidou de todos os detalhes da decoração para mostrar que nada se parece mais com o inferno do que aquela cerimônia. O pano de fundo está lá, impecável, mas a missão delegada à noiva soa algo como assustadora: ela é desafiada, a cada cena e a cada instante, a ser feliz, a rir o tempo todo, a ser como as pessoas gostariam de ser, e não são.
E o casamento, àquela altura, não é outra coisa se não a amostra grátis de uma felicidade comprada a prestações, da infância à vida adulta. Porque somente um sorriso de princesa é capaz de entorpecer os convidados, entre eles os pais da noiva que não escondem a infelicidade exposta por uma relação que não deu certo. Ou a irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg), espécie de mestre de cerimônias, que se apoia no discurso da união familiar para esconder de si mesma o tédio a que está condenada ao lado do marido naquele “castelo” onde reina o vazio. Tudo mais ou menos como a estratosfera da audiência espalhada pelo Planeta que, por alguns instantes, imaginou que a vida poderia ser diferente da sua ao assistir, boquiaberta, ao casamento de Kate Middleton e o príncipe William, na Inglaterra.
Se em filmes anteriores o diretor dinamarquês expôs com precisão as pequenas tiranias incorporadas nas pequenas ilhas sociais nas quais um único personagem, aparentemente ingênuo, era forçado a engolir cada tapa da vida até a sua completa destruição moral e física – como fez em “Dogville”, “Manderlay” e “Dançando no Escuro” – desta vez é o personagem que se antecipa à fragilidade do mundo ao seu redor. Justine já não é a frágil Grace, que um dia acreditou que sua boa vontade a livraria da crueldade canina das pessoas à sua volta.
Diferentemente dela, Justine já percebeu que não tem a menor capacidade de curar as feridas da desagregação herdada pelos pais. Justine dá de ombros para as formalidades montadas ao seu entorno, e parece desconfiar que as esperanças depositadas na cerimônia não devem sobreviver ao primeiro sopro que exponha não só a fragilidade humana, mas a fragilidade dos próprios sonhos.
Numa das mais simbólicas cenas do filme, Justine confessa à irmã que mal consegue aproveitar a festa porque um fio cinza do vestido lhe aprisiona os movimentos. Todos parecem ter certeza sobre tudo, mas ela não. Por isso, lamenta que, apesar de sorrir o tempo todo, não consegue disfarçar o pavor que sente pela obrigação de estar feliz. Essa incapacidade é exposta nas pequenas fugas que realiza dentro da própria festa. (Que tal um banho de banheira entre a valsa e o corte do bolo? Ou uma escapada para uma rapidinha com um dos convidados enquanto o marido “recém-empossado” a espera?)
Entre regras e transgressões enclausuradas em sua própria festa, a ameaça de um planeta desconhecido – não por acaso batizado como Melancolia – atingir em cheio a Terra e acabar com a vida humana não é sequer capaz de fazê-la franzir a sobrancelha. Porque, no mundo que ela acaba de herdar, não é a sensação de finitude que a angustia, mas o seu contrário: a sensação de que tudo pode durar enquanto for eterno. Esse infinito nada mais é que a estrada estreita e sem-graça onde tentam encaixar a limusine, como se a felicidade fosse também insustentável num planeta despedaçado e que, no primeiro sinal de perigo (e catástrofe), cada um fatalmente correrá para um lado. Não é por acaso que justamente o cunhado, dono do castelo, pai e marido exemplar e que se gaba de patrocinar o regabofe, seja o primeiro a acusar o golpe quando desconfia que seus planos (e castelos) serão despedaçados caso haja a colisão entre planetas: justo ele, que na TV é ninguém menos que Jack Bauer, da série 24 horas…
O desapego pelas convenções é o que explica a indiferença de Justine em relação à sua felicidade forjada, mas também em relação à morte. Ela sabe que, perto do tédio e da covardia que a rodeia, a melancolia (que já foi chamada de “depressão com aura”) é apenas um alento. Só que isso não está escrito nos livros sobre princesas nem nos catálogos de decoração para a festa de nossos sonhos.
Texto de Matheus Pichonelli - Carta Capital

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ANÁLISE DOS MEIOS DE TRANSPORTE

Trabalho Coletivo - 3° ano Horto 2012

 
Vamos analisar a situação dos meios de transportes existentes no Brasil. Num primeiro momento navegue na internet e procure os diversos modais existentes em nosso país, em seguida estabeleça uma breve comparação entre eles e responda a seguinte pergunta: Como você observa a situação dos transportes no Brasil? Coloque em seu comentário a resposta! Boa viagem!

sábado, 10 de setembro de 2011

LINK INDICADO - CACHOEIRA DE FOGO

O aluno luiz Felipe Pozzebon indicou um link bem interessante e curioso. Posto aqui para compartilhar com vocês. Bom fim de semana a todos!
http://domescobar.blogspot.com/2010/08/impressionante-cachoeira-de-fogo-do.html

sexta-feira, 22 de julho de 2011

COMO LIDAR COM BRINCADEIRAS QUE MACHUCAM A ALMA

A criançada entra na sala eufórica. Você se acomoda na mesa enquanto espera que os alunos se sentem, retirem o material da mochila e se acalmem para a aula começar. Nesse meio tempo, um deles grita bem alto: "Ô, cabeção, passa o livro!" O outro responde: "Peraí, espinha". Em outro canto da sala, um garoto dá um tapinha, "de leve", na nuca do colega. A menina toda produzida logo pela manhã ouve o cumprimento: "Fala, metida!" Ao lado dela, bem quietinha, outra garota escuta lá do fundo da sala: "Abre a boca, zumbi!" E a classe cai na risada.
O ambiente parece normal para você? Então leia esta reportagem com atenção. O nome dado a essas brincadeiras de mau gosto, disfarçadas por um duvidoso senso de humor, é bullying. O termo ainda não tem uma denominação em português, mas é usado quando crianças e adolescentes recebem apelidos que os ridicularizam e sofrem humilhações, ameaças, intimidação, roubo e agressão moral e física por parte dos colegas. Entre as conseqüências estão o isolamento e a queda do rendimento escolar. Em alguns casos extremos, o bullying pode afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.
Pesquisa realizada em 11 escolas cariocas pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), no Rio de Janeiro, revelou que 60,2% dos casos acontecem em sala de aula. Daí a importância da sua intervenção. Mudar a cultura perversa da humilhação e da perseguição na escola está ao seu alcance. Para isso, é preciso identificar o bullying e saber como evitálo.
Em janeiro do ano passado, Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou no colégio onde tinha estudado, em Taiúva (SP), e feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38. Em seguida, se matou. Obeso, ele havia passado a vida escolar sendo vítima de apelidos humilhantes e alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores. Atitudes semelhantes tiveram dois adolescentes norte americanos, na escola de Ensino Médio Columbine, no Colorado (EUA), em abril de 1999. Após matar13 pessoas e deixar dezenas de feridos, eles também cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. Assim como o garoto brasileiro, os jovens americanos eram ridicularizados pelos colegas.
Os exemplos de Edmar e dos garotos de Columbine, que tiveram reações extremadas, são um alerta para os educadores. "Os meninos não quiseram atingir esse ou aquele estudante. O objetivo deles era matar a escola em que viveram momentos de profunda infelicidade e onde todos foram omissos ao seu sofrimento", analisa o pediatra Aramis Lopes Neto, coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Abrapia.
No filme norte americano Bang Bang! Você Morreu, Trevor, o protagonista, é vítima de bullying. Para revidar, ameaça os que o perseguem com uma bomba de mentira. Diferentes dele são os que sofrem em silêncio e enfrentam com medo e vergonha o desafio de ir à escola. Em vez de reagir ou procurar ajuda, se isolam, ficam deprimidos, querem abandonar os estudos, não se acham bons para integrar o grupo, apresentam baixo rendimento e evitam falar sobre o problema.
"Quem mais sofre é quem menos fala. Esses passam despercebidos pelo professor", alerta a psicóloga Carolina Lisboa, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Centro Universitário Feevale (RS). "Tinha vontade de ficar sozinha. Não queria ser notada", diz Vanessa Brandão Greco, da 7ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Thomas Mann, no Rio de Janeiro. Ela recebia apelidos humilhantes por causa dos cabelos crespos.
Mesmo quem adere à brincadeira se sente diminuído pelos comentários dos colegas. Mas, para se defender, entra no jogo — o que dá uma falsa impressão de que não se ressente. "Eu ridicularizava os outros porque, se não fizesse isso, o alvo seria eu", conta Leandro Souza Gomes Santos, da 8ª série.
Vanessa e Leandro tiveram mais sorte que Trevor, o personagem do filme, já que a escola deles se engajou há dois anos no programa de combate ao bullying promovido pela Abrapia. "Nós não toleramos isso porque todos sentiram na pele como é melhor estar em um ambiente de respeito",afirma a diretora Maria das Graças Caldas Freire. É verdade. Pelos corredores, a garotada toda sabe, na ponta da língua, o que é bullying e por que evitálo. Nas áreas em que o professor não está presente, há alunos voluntários. Eles observam a movimentação e quando identificam o problema dialogam com o colega. "Pergunto: e se fosse com você?", explica Karol de Castro Façanha, da 7ª série,um dos 30 voluntários da escola.
Para se adequar a um local hostil, os jovens acabam adotando um comportamento diferente do que seria natural para eles. "O Leandro era um agitador. Só tirava notas baixas e era difícil lidar com ele”, lembra a professora de Geografia Rosana Mendes Ferreira. Ela notou que o programa adotado pela escola foi decisivo para o progresso do garoto, hoje com notas altas em diversas disciplinas. "E ainda nem cheguei aonde quero", ele afirma confiante. Já Vanessa deixou de lado a timidez. "Hoje eu acho que falo até demais", confessa aos risos.
Como o bullying ainda é tratado como um fenômeno natural, pouquíssimas escolas conhecem e combatem o problema. Hugo Vinícius de Souza Lins está na 5ª série. Ele entrou na Thomas Mann este ano e conta que na escola onde estudava antes nunca tinha ouvido falar no assunto. "Lá me davam apelidos e, apesar de não gostar, fazia a mesma coisa. Aqui parei com isso, porque acho errado incomodar quem não merece." Os alunos são orientados a ser receptivos e a integrar quem acaba de chegar explicando que ali não se tolera o bullying. Isso evita o isolamento e o pré julgamento do novato, que aprende a procurar ajuda.
As turmas já estão até organizando uma peça de teatro sobre o tema, que será apresentada para os pais e a comunidade. Os professores sugerem dinâmicas entre os adolescentes, estimulando o bom relacionamento, além de aplicar atividades que envolvam a questão. "Lendo as redações que eles produzem, consigo identificar o que sentem e se passam por algum problema", diz a professora de Língua Portuguesa Maria Pamphiro Veloso.
Segundo o pediatra Aramis Lopes Neto, os estudantes que participaram das pesquisas não tiveram muita dificuldade em identificar o problema na escola. "Só o nome era novo", diz. "Deparei com histórias tristes, de crianças e jovens que sofriam calados todo tipo de agressão", comenta. No programa da Abrapia, os professores foram orientados a, primeiramente, promover a conscientização das turmas sobre o bullying. "Se não fizermos isso, todos vão continuar com o que, para eles, é apenas uma brincadeira", explica a diretora Maria das Graças.
Na Thomas Mann, todos os casos vão parar na direção. E não é terrorismo, não. Na sala da diretora, a garotada entra e sai à vontade, mostrando confiança e desembaraço. Ir para a direção, lá, não significa uma punição. "Converso com todos os alunos e promovo o entendimento, o respeito", diz Maria das Graças. Nas reuniões pedagógicas, o assunto surge naturalmente, e os docentes contam como lidaram com os incidentes ocorridos em classe e discutem atividades feitas pelas turmas.
Cada professor busca em sua disciplina um gancho para trabalhar o tema. Assim, a professora de Artes monta os cartazes da campanha contra o bullying, que são dispostos nas paredes da escola. Em História, é trabalhada a questão do negro e do racismo no Brasil, que também é um dos motivos do fenômeno. Já a Geografia estuda os fatores políticos e econômicos que traçam os caminhos da desigualdade no Brasil.
Os professores observam o comportamento da turma e fazem perguntas para identificar possíveis vítimas e autores. Ao surgir uma situação em sala, a intervenção é imediata. Interrompese a aula para colocar o assunto em discussão e relembrar os combinados. "Se algo ocorre e o professor se omite ou até mesmo dá uma risadinha por causa de uma piada ou de um comentário, vai pelo caminho errado. Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo", diz Aramis.
O bullying também pode ser praticado por meios eletrônicos. Mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulam por emails, sites, blogs (os diários virtuais), pagers e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que a vítima não está cara a cara com o agressor, o que aumenta a crueldade dos comentários e das ameaças. Quando a agressão está num mundo virtual, o melhor remédio é, mais uma vez, a conversa. Se crianças e adolescentes confiam nos adultos que os cercam, podem contar sobre o bullying sem medo de represálias, uma vez que terão a certeza de encontrar ajuda.
De modo geral, entre os meninos é mais fácil identificar um possível autor de bullying, pois suas ações são mais expansivas e agressivas. Eles chutam, gritam, empurram, batem. São os fortões, os temíveis. Já no universo feminino, o problema se apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem ser fofoquinhas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. "As garotas raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada", explica a pesquisadora norte americana Rachel Simmons, especialista em bullying feminino.
Ela conta que as meninas agem dessa forma porque esperase que sejam boazinhas, dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. "É preciso reconhecer que as garotas também sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar outros meios — além dos físicos —para se expressar", diz Rachel.
Sejam meninos, meninas, crianças ou adolescentes, é preciso evitar o sofrimento dos estudantes. A pesquisa da Abrapia revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem mesmo com os colegas. "Às vezes, quando o aluno resolve conversar, não recebe a atenção necessária, pois a escola não acha o problema grave e deixa passar", alerta Aramis.
No caso daqueles que recorrem à família, a ajuda também não é eficaz. Se os pais reclamam, a direção e os professores tomam medidas pontuais, sem desenvolver um trabalho generalizado, permitindo que o problema se repita. "A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade", conclui o pediatra.
Para um ambiente saudável na escola, é fundamental: Esclarecer o que é bullying. Avisar que a prática não é tolerada. Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações ou sugestões. Estimular os estudantes a informar os casos. Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema. Identificar possíveis agressores e vítimas. Acompanhar o desenvolvimento de cada um. Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regimento escolar. Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos. Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica de bullying. Prestar atenção nos mais tímidos e calados. Geralmente as vítimas se retraem.
O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo, significa ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar. O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater. Ainda não existe termo equivalente em português, mas alguns psicólogos estudiosos do assunto o denominam "violência moral", "vitimização" ou "maltrato entre pares", uma vez que se trata de um fenômeno de grupo em que a agressão acontece entre iguais - no caso, estudantes. Como é um assunto estudado há pouco tempo (as primeiras pesquisas são da década de 1990), cada país ainda tem de encontrar uma palavra, em sua própria língua, que tenha esse significado tão amplo.