sábado, 20 de fevereiro de 2010

O RELÓGIO


O colégio onde eu estudava quando menino, costumava encerrar o ano letivo com um espetáculo teatral.Eu adorava aquilo, porém nunca fora convidado para participar, o que me trazia uma secreta mágoa.Quando fiz onze anos avisaram-me que, finalmente iria ter um papel para representar.Fiquei felicíssimo, mas esse estado de espírito durou pouco.Escolheram um colega para o desempenho do papel principal.A mim coube uma ponta de pouca importância.Minha decepção foi imensa.Voltei para casa em prantos.Mamãe quis saber o que se passava e ouviu toda a minha história entre lágrimas e soluços.Sem nada dizer ela foi buscar o bonito relógio de bolso de papai e colocou-o em minhas mãos, dizendo :- Que é isso que você está vendo ?- Um relógio de ouro com mostrador e ponteiros.Em seguida mamãe abriu a parte traseira do relógio e repetiu a pergunta :- O que você está vendo ?- Ora mamãe, aí dentro parece haver centenas de rodinhas e parafusos.Mamãe me surpreendia, pois aquilo nada tinha a ver com o motivo do meu aborrecimento.Entretanto, calmamente ela prosseguiu :- Este relógio tão necessário ao seu pai e tão bonito seria absolutamente inútil se nele faltasse qualquer parte, mesmo a mais insignificante das rodinhas ou o menor dos parafusos.Nós nos entrefitamos e no seu olhar calmo e amoroso, eu compreendi sem que ela precisasse dizer mais nada.Essa pequena lição tem me ajudado muito a ser mais feliz na vida, aprendi com a máquina daquele relógio quão essenciais são mesmo os deveres mais ingratos e difíceis, que nos cabem a todos.Não importa que sejamos o mais ínfimo parafuso ou a mais ignorada rodinha, desde que o trabalho, em conjunto, seja para o bem de todos.E percebi também que se o esforço tiver êxito o que menos importa são os aplausos exteriores.O que vale mesmo é a paz de espírito do dever cumprido.