sexta-feira, 22 de julho de 2011

COMO LIDAR COM BRINCADEIRAS QUE MACHUCAM A ALMA

A criançada entra na sala eufórica. Você se acomoda na mesa enquanto espera que os alunos se sentem, retirem o material da mochila e se acalmem para a aula começar. Nesse meio tempo, um deles grita bem alto: "Ô, cabeção, passa o livro!" O outro responde: "Peraí, espinha". Em outro canto da sala, um garoto dá um tapinha, "de leve", na nuca do colega. A menina toda produzida logo pela manhã ouve o cumprimento: "Fala, metida!" Ao lado dela, bem quietinha, outra garota escuta lá do fundo da sala: "Abre a boca, zumbi!" E a classe cai na risada.
O ambiente parece normal para você? Então leia esta reportagem com atenção. O nome dado a essas brincadeiras de mau gosto, disfarçadas por um duvidoso senso de humor, é bullying. O termo ainda não tem uma denominação em português, mas é usado quando crianças e adolescentes recebem apelidos que os ridicularizam e sofrem humilhações, ameaças, intimidação, roubo e agressão moral e física por parte dos colegas. Entre as conseqüências estão o isolamento e a queda do rendimento escolar. Em alguns casos extremos, o bullying pode afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.
Pesquisa realizada em 11 escolas cariocas pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), no Rio de Janeiro, revelou que 60,2% dos casos acontecem em sala de aula. Daí a importância da sua intervenção. Mudar a cultura perversa da humilhação e da perseguição na escola está ao seu alcance. Para isso, é preciso identificar o bullying e saber como evitálo.
Em janeiro do ano passado, Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou no colégio onde tinha estudado, em Taiúva (SP), e feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38. Em seguida, se matou. Obeso, ele havia passado a vida escolar sendo vítima de apelidos humilhantes e alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores. Atitudes semelhantes tiveram dois adolescentes norte americanos, na escola de Ensino Médio Columbine, no Colorado (EUA), em abril de 1999. Após matar13 pessoas e deixar dezenas de feridos, eles também cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. Assim como o garoto brasileiro, os jovens americanos eram ridicularizados pelos colegas.
Os exemplos de Edmar e dos garotos de Columbine, que tiveram reações extremadas, são um alerta para os educadores. "Os meninos não quiseram atingir esse ou aquele estudante. O objetivo deles era matar a escola em que viveram momentos de profunda infelicidade e onde todos foram omissos ao seu sofrimento", analisa o pediatra Aramis Lopes Neto, coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Abrapia.
No filme norte americano Bang Bang! Você Morreu, Trevor, o protagonista, é vítima de bullying. Para revidar, ameaça os que o perseguem com uma bomba de mentira. Diferentes dele são os que sofrem em silêncio e enfrentam com medo e vergonha o desafio de ir à escola. Em vez de reagir ou procurar ajuda, se isolam, ficam deprimidos, querem abandonar os estudos, não se acham bons para integrar o grupo, apresentam baixo rendimento e evitam falar sobre o problema.
"Quem mais sofre é quem menos fala. Esses passam despercebidos pelo professor", alerta a psicóloga Carolina Lisboa, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Centro Universitário Feevale (RS). "Tinha vontade de ficar sozinha. Não queria ser notada", diz Vanessa Brandão Greco, da 7ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Thomas Mann, no Rio de Janeiro. Ela recebia apelidos humilhantes por causa dos cabelos crespos.
Mesmo quem adere à brincadeira se sente diminuído pelos comentários dos colegas. Mas, para se defender, entra no jogo — o que dá uma falsa impressão de que não se ressente. "Eu ridicularizava os outros porque, se não fizesse isso, o alvo seria eu", conta Leandro Souza Gomes Santos, da 8ª série.
Vanessa e Leandro tiveram mais sorte que Trevor, o personagem do filme, já que a escola deles se engajou há dois anos no programa de combate ao bullying promovido pela Abrapia. "Nós não toleramos isso porque todos sentiram na pele como é melhor estar em um ambiente de respeito",afirma a diretora Maria das Graças Caldas Freire. É verdade. Pelos corredores, a garotada toda sabe, na ponta da língua, o que é bullying e por que evitálo. Nas áreas em que o professor não está presente, há alunos voluntários. Eles observam a movimentação e quando identificam o problema dialogam com o colega. "Pergunto: e se fosse com você?", explica Karol de Castro Façanha, da 7ª série,um dos 30 voluntários da escola.
Para se adequar a um local hostil, os jovens acabam adotando um comportamento diferente do que seria natural para eles. "O Leandro era um agitador. Só tirava notas baixas e era difícil lidar com ele”, lembra a professora de Geografia Rosana Mendes Ferreira. Ela notou que o programa adotado pela escola foi decisivo para o progresso do garoto, hoje com notas altas em diversas disciplinas. "E ainda nem cheguei aonde quero", ele afirma confiante. Já Vanessa deixou de lado a timidez. "Hoje eu acho que falo até demais", confessa aos risos.
Como o bullying ainda é tratado como um fenômeno natural, pouquíssimas escolas conhecem e combatem o problema. Hugo Vinícius de Souza Lins está na 5ª série. Ele entrou na Thomas Mann este ano e conta que na escola onde estudava antes nunca tinha ouvido falar no assunto. "Lá me davam apelidos e, apesar de não gostar, fazia a mesma coisa. Aqui parei com isso, porque acho errado incomodar quem não merece." Os alunos são orientados a ser receptivos e a integrar quem acaba de chegar explicando que ali não se tolera o bullying. Isso evita o isolamento e o pré julgamento do novato, que aprende a procurar ajuda.
As turmas já estão até organizando uma peça de teatro sobre o tema, que será apresentada para os pais e a comunidade. Os professores sugerem dinâmicas entre os adolescentes, estimulando o bom relacionamento, além de aplicar atividades que envolvam a questão. "Lendo as redações que eles produzem, consigo identificar o que sentem e se passam por algum problema", diz a professora de Língua Portuguesa Maria Pamphiro Veloso.
Segundo o pediatra Aramis Lopes Neto, os estudantes que participaram das pesquisas não tiveram muita dificuldade em identificar o problema na escola. "Só o nome era novo", diz. "Deparei com histórias tristes, de crianças e jovens que sofriam calados todo tipo de agressão", comenta. No programa da Abrapia, os professores foram orientados a, primeiramente, promover a conscientização das turmas sobre o bullying. "Se não fizermos isso, todos vão continuar com o que, para eles, é apenas uma brincadeira", explica a diretora Maria das Graças.
Na Thomas Mann, todos os casos vão parar na direção. E não é terrorismo, não. Na sala da diretora, a garotada entra e sai à vontade, mostrando confiança e desembaraço. Ir para a direção, lá, não significa uma punição. "Converso com todos os alunos e promovo o entendimento, o respeito", diz Maria das Graças. Nas reuniões pedagógicas, o assunto surge naturalmente, e os docentes contam como lidaram com os incidentes ocorridos em classe e discutem atividades feitas pelas turmas.
Cada professor busca em sua disciplina um gancho para trabalhar o tema. Assim, a professora de Artes monta os cartazes da campanha contra o bullying, que são dispostos nas paredes da escola. Em História, é trabalhada a questão do negro e do racismo no Brasil, que também é um dos motivos do fenômeno. Já a Geografia estuda os fatores políticos e econômicos que traçam os caminhos da desigualdade no Brasil.
Os professores observam o comportamento da turma e fazem perguntas para identificar possíveis vítimas e autores. Ao surgir uma situação em sala, a intervenção é imediata. Interrompese a aula para colocar o assunto em discussão e relembrar os combinados. "Se algo ocorre e o professor se omite ou até mesmo dá uma risadinha por causa de uma piada ou de um comentário, vai pelo caminho errado. Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo", diz Aramis.
O bullying também pode ser praticado por meios eletrônicos. Mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulam por emails, sites, blogs (os diários virtuais), pagers e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que a vítima não está cara a cara com o agressor, o que aumenta a crueldade dos comentários e das ameaças. Quando a agressão está num mundo virtual, o melhor remédio é, mais uma vez, a conversa. Se crianças e adolescentes confiam nos adultos que os cercam, podem contar sobre o bullying sem medo de represálias, uma vez que terão a certeza de encontrar ajuda.
De modo geral, entre os meninos é mais fácil identificar um possível autor de bullying, pois suas ações são mais expansivas e agressivas. Eles chutam, gritam, empurram, batem. São os fortões, os temíveis. Já no universo feminino, o problema se apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem ser fofoquinhas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. "As garotas raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e se sente culpada", explica a pesquisadora norte americana Rachel Simmons, especialista em bullying feminino.
Ela conta que as meninas agem dessa forma porque esperase que sejam boazinhas, dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, mas não menos prejudiciais. "É preciso reconhecer que as garotas também sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas são forçadas a encontrar outros meios — além dos físicos —para se expressar", diz Rachel.
Sejam meninos, meninas, crianças ou adolescentes, é preciso evitar o sofrimento dos estudantes. A pesquisa da Abrapia revela que 41,6% das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem mesmo com os colegas. "Às vezes, quando o aluno resolve conversar, não recebe a atenção necessária, pois a escola não acha o problema grave e deixa passar", alerta Aramis.
No caso daqueles que recorrem à família, a ajuda também não é eficaz. Se os pais reclamam, a direção e os professores tomam medidas pontuais, sem desenvolver um trabalho generalizado, permitindo que o problema se repita. "A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade", conclui o pediatra.
Para um ambiente saudável na escola, é fundamental: Esclarecer o que é bullying. Avisar que a prática não é tolerada. Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações ou sugestões. Estimular os estudantes a informar os casos. Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema. Identificar possíveis agressores e vítimas. Acompanhar o desenvolvimento de cada um. Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regimento escolar. Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos. Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica de bullying. Prestar atenção nos mais tímidos e calados. Geralmente as vítimas se retraem.
O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo, significa ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar. O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater. Ainda não existe termo equivalente em português, mas alguns psicólogos estudiosos do assunto o denominam "violência moral", "vitimização" ou "maltrato entre pares", uma vez que se trata de um fenômeno de grupo em que a agressão acontece entre iguais - no caso, estudantes. Como é um assunto estudado há pouco tempo (as primeiras pesquisas são da década de 1990), cada país ainda tem de encontrar uma palavra, em sua própria língua, que tenha esse significado tão amplo.

A DISCRETA FARSA DA BURGUESIA

Como uma obra se torna um clássico? No caso dos livros de história, alguns são elevados a essa categoria porque trazem uma pesquisa de fôlego e uma descrição reveladora da realidade. Outros viram referência porque, além da força da análise, criam um método novo e revolucionário para a compreensão da história. O 18 Brumário de Luís Bonaparte pertence ao segundo tipo. Seu autor é o alemão Karl Marx, filósofo, sociólogo, historiador e economista que nasceu na cidade de Trier, em 1818, e ficou eternizado como o grande teórico do comunismo.
Publicado em 1852, o texto descreve um golpe de Estado recémocorrido na França. Carlos Luís Napoleão Bonaparte, eleito presidente do país em 1848, resolveu impor uma ditadura três anos depois. A data escolhida para o golpe foi 2 de dezembro de 1851, aniversário de 47 anos da coroação de seu tio, o general e estadista Napoleão Bonaparte, como imperador da França. Essa repetição de Napoleões no poder inspirou Marx a formular a célebre frase com que abre seu texto, citando outro importante filósofo alemão: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceuse de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
A ironia de Marx está presente até no título do livro. Anos antes de se tornar imperador, o primeiro Napoleão também havia dado um golpe de Estado, em 9 de novembro de 1799, com o qual se tornou cônsul da França. No curioso calendário que o país havia adotado após a revolução de 1789, essa data correspondia ao dia 18 do mês de brumário. Ao chamar a obra de O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx indica que o golpe dado por Napoleão III era apenas uma cópia daquele que fora dado antes por seu célebre tio.
          Apesar de ter ficado famosa, essa forma de olhar para as “coincidências” históricas, em que a nova versão se transforma em caricatura, não é a idéia principal de Marx no texto. O que ele fez de mais revolucionário foi perceber, analisando aqueles fatos que haviam acabado de acontecer, que “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Ou seja: apesar de serem atores da história, as pessoas só são capazes de agir nos limites que a realidade impõe.
Os atos individuais não ocupam papel central na visão de Marx. Para ele, o motor da história é a luta entre as classes sociais, responsável por produzir as transformações mais importantes. De um lado, estão sempre os dominadores. De outro, sempre os dominados. Os primeiros são os que detêm os “meios de produção” (terra, propriedade privada, máquinas, indústrias etc.). Já os segundos são aqueles que só possuem a própria força de trabalho e que, para sobreviver, são forçados à servidão. Na Antiguidade, esse posto tinha pertencido aos escravos. No feudalismo, aos servos. Já no capitalismo, essa classe é formada pelos trabalhadores assalariados – o chamado proletariado, que vende sua força de trabalho para a burguesia.
Ao contemplar sua própria época, Marx via um confronto revolucionário no horizonte, provocado por essa distribuição injusta das posses, opondo os burgueses aos proletários. Nem era preciso olhar muito longe para entender que sua interpretação da história fazia bastante sentido. Para os pensadores do século 19, a Revolução Francesa era a grande referência. Segundo Marx, ela marcou a mudança de posição da burguesia no grande jogo. Voltando no tempo, essa classe social já tinha sido revolucionária, quando seus interesses econômicos, que se expandiam pelo menos desde o fim da Idade Média, encontraram no parasitismo da nobreza um enorme empecilho. Ao derrubar a monarquia, a burguesia foi se transformando aos poucos, em toda a Europa e depois no resto do mundo, na nova classe dominante. Assim, deixou de ser revolucionária e se tornou conservadora, preocupada em manter a ordem vigente.
Depois da ascensão da burguesia, o proletariado tomou seu lugar como classe oprimida e, portanto, potencialmente revolucionária. Nessa nova situação, ficou ainda mais claro que todo processo de acumulação de riqueza exige, para se concretizar, uma usurpação. Para que existam ricos, é necessário que existam pobres – esse é simplificadamente, o raciocínio que Marx aplica a toda a história. Difícil é discordar dele.
Três anos antes de publicar O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx escrevera, na companhia de seu amigo Friedrich Engels (veja quadro ao lado) um panfleto intitulado Manifesto do Partido Comunista. Nele, os dois explicam de forma resumida suas principais intuições sobre a dinâmica da história e interpretam as grandes transformações impostas pela burguesia. Segundo eles, para vender seus produtos, a burguesia precisava “instalarse em todos os lugares, acomodarse em todos os lugares, estabelecer conexões em todos os lugares”. Por causa disso, prosseguem, “a burguesia, através de sua exploração do mercado mundial, deu um caráter cosmopolita para a produção e o consumo em todos os países”. Raciocínios como esse, de extrema lucidez, se mantêm atualíssimos sem que seja preciso alterar uma vírgula sequer. O que era fato em 1848 continua a sêlo – talvez ainda mais.
Apesar de ser um tanto complexo para o leitor atual, o texto pretendia explicar para as massas de trabalhadores a estratégia de dominação usada pela burguesia para se perpetuar no poder. Esse “esclarecimento” era parte de um programa revolucionário: consciente de sua situação, o proletariado teria enfim condições de se rebelar contra a burguesia. Seriam, mais uma vez, os dominados se voltando contra os dominadores. A revolução proletária seria um grande passo para que se adotasse o comunismo, regime político que acabaria com a propriedade privada e com as classes sociais.
Os conceitos lançados no Manifesto do Partido Comunista também estão presentes em O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Mas, dessa vez, o desafio era interpretar acontecimentos recentes e bem conhecidos a partir de teorias que ainda estavam em formação. Ao analisar o golpe, Marx estava testando a solidez de suas idéias. E o que ele fez foi demonstrar que a atitude do sobrinho de Napoleão tinha sido apenas um resultado natural, quase previsível, dos rumos que a história da França estava tomando desde a revolução de 1789.
Ao falar da França de meados do século 19, Marx descreve toda a estratégia política, militar e institucional da burguesia francesa como um processo em que ela toma para si algo que, supostamente, deveria ser de todos: o Estado. Se Napoleão Bonaparte tinha imposto um Estado forte, imperial e expansionista, ele o fez não em benefício do povo, mas a serviço de uma só classe, a burguesia. Essa havia sido a “tragédia”. A “farsa” veio quando Luís Bonaparte, com um golpe de Estado, se transforma em Napoleão III. Para conseguir o poder, ele foi beneficiado por alianças entre partidos burgueses – o que, segundo descreve Marx, significou trair as lideranças proletárias e tirálas do governo.
A engenhosa argumentação de O 18 Brumário de Luís Bonaparte descreve a democracia como um imenso tabuleiro, em que os interesses de diferentes classes são manipulados sob o mecanismo de representação do povo por políticos – uma fórmula normalmente tida como justa. Depois de ler o livro, é difícil deixar de perceber que essa forma de governo, presente até hoje, oculta uma imensa engenharia de pequenos acordos. Olhando desse modo, as repúblicas modernas, aparentemente legítimas, serviriam apenas aos burgueses.
Ao falar de Napoleão III, Marx constrói a imagem de um herói de araque posando com a fantasia de grande estadista, governando em nome da dominação da burguesia sobre as outras classes. Segundo disse o amigo Engels ao escrever o prefácio da obra, 30 anos após seu lançamento, “essa notável compreensão da história viva da época, essa lúcida apreciação dos acontecimentos ao tempo em que se desenrolavam, é, realmente, sem paralelo”. De fato, é impressionante como Marx foi capaz de olhar um momento específico e tirar dele uma explicação consistente para o modo como a política é feita no capitalismo. O modelo dos golpes napoleônicos estava pronto para muitos que vieram depois. E, desde então, a história continua a se desenrolar cada vez menos como tragédia e quase sempre como farsa.
Companheiro de luta Engels era um bom parceiro intelectual e ainda emprestava dinheiro. Muitas histórias nunca teriam acontecido se algumas duplas não tivessem se encontrado. O que teria sido, por exemplo, do cristianismo sem Adão e Eva? Ou da comédia sem o Gordo e o Magro? Ou do desenho animado sem Tom e Jerry? Pois o comunismo, como o conhecemos, não existiria sem o encontro de Karl Marx com Friedrich Engels. Filho de um industrial alemão, Engels nasceu dois anos depois de seu camarada, em 1820. Em 1844, publicou um texto chamado Esboço de uma Crítica da Economia Política, que influenciou decisivamente o pensamento do jovem Marx. Naquela obra, Engels analisava as conseqüências das más condições de vida do proletariado e da utilização de sua força de trabalho pela burguesia. Apesar de oriundo do meio burguês, ele conhecia de perto a situação precária dos trabalhadores, pois cuidava de uma das fábricas do pai em Manchester, na Inglaterra. Depois de se aproximarem, os dois jovens se associaram para escrever o Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848, texto que rapidamente virou referência para a esquerda de vários países. E a relação entre ambos não demorou a passar do plano teórico para o pessoal. Foi o apoio financeiro de Engels que permitiu a Marx sobreviver em Londres, onde havia se instalado em 1849, e ali dar continuidade a sua enorme produção teórica. Depois da morte do parceiro, em 1883, o cuidado de Engels foi fundamental para que o mundo viesse a conhecer na íntegra a obra mais famosa de Marx: ele editou e publicou o segundo e o terceiro volumes de O Capital, que haviam sido deixados inacabados pelo autor. Até morrer, em 1895, Engels seguiu escrevendo – fez, inclusive, prefácios de novas edições dos livros de Marx.

Saiba mais: Livro O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann, Karl Marx, Paz e Terra, 1997.

A VIOLÊNCIA PODE DAR LUGAR A PAZ

Paz e Amor!
Nestes tempos difíceis, somos desafiados a compreender por que se repetem episódios de agressão nas escolas e contra elas. Nós, educadores, devemos rejeitar diagnósticos simplistas e superar propostas de mera repressão, pois sabemos que a escola não é uma ilha apartada do contexto social e tudo o que nela ocorre tem também caráter educacional. Nesse sentido, ora vemos seus problemas serem resolvidos em ambientes de diálogo, ora percebemos que impera o descontrole de conflitos. Distinguir essas duas situações pode evitar que um espaço de trabalho se degenere e venha a se tornar agressivo e violento.
Podemos comparar a paz necessária ao ensino com a vitalidade indispensável à vida humana. Saúde não é a estática ausência de doenças, mas uma condição dinâmica de funções vitais que se realizam e se recompõem. Isso fica claro quando, por exemplo, um ferimento se cicatriza ou nosso corpo supera resfriados e intoxicações sem deixar que se agravem. Do mesmo modo, paz não é ausência de tensões, mas a capacidade de evitá‐las e resolvê‐las. Uma escola gera a harmonia se decide enfrentar seus dilemas e conflitos para fazer o que dela se espera: formar as crianças e os jovens que recebe, promovendo conhecimentos, habilidades e valores.
Essa analogia vale também pela sua negativa, pois, da mesma forma que longas frustrações comprometem a saúde pessoal, a tranquilidade é ameaçada numa situação em que não se aprende, já que se sentem privados tanto alunos como pais e professores. Ao ver a depredação de estabelecimentos de ensino nos noticiários da TV e incidentes ocorridos dentro de seus muros relatados nas colunas policiais dos jornais, é inevitável a comparação com rebeliões e crimes em presídios. Ambos os fatos têm em comum o descrédito de instituições que, em princípio, deveriam preparar ou recuperar as pessoas para o convívio em sociedade. Nos dois casos, a falta de respeito por um bem público ou pela vida decorre da desesperança.
É falsa a generalização de que se possa creditar tudo isso à pobreza, pois sei de unidades da rede pública em áreas de risco que fazem um ótimo trabalho ao lado de outras que se omitem atrás de desculpas. As primeiras aprenderam a lidar com casos de gravidez na adolescência, com abuso de drogas e com dificuldades na aprendizagem por maus tratos domésticos, e isso sem abrir mão de que as aulas sejam de fato dadas e que nelas os estudantes se envolvam e se desenvolvam, habituando‐se a conviver com regras claras e compreendidas por todos. Essas instituições reconhecem como suas as dificuldades educacionais ou sociais enfrentadas no dia‐a‐dia ‐ nas mesmas condições adversas em que outras sucumbiriam ‐ e provavelmente por isso não são cenários de violência entre as pessoas ou contra suas instalações.
Seus educadores não se consideram heróis ou mártires, e se algo os distingue é seu sentido de pertencimento à escola e vice‐versa. Professores, coordenação e direção constituem uma efetiva equipe e alguns integrantes mais experientes ou há mais tempo na unidade respondem pela memória e pelo compromisso institucional, ou seja, seu corpo docente é realmente um corpo, e isso nos traz de volta à comparação entre paz e saúde.
Quando a escola tem esse saudável compromisso com sua função social, pode receber tensões do entorno e se deparar com os mesmos problemas que outras, mas os ataca para que não se tornem crônicos e não permite que essa atmosfera negativa contamine o convívio e as relações de aprendizagem. Não se trata de maquiar desigualdades ‐que precisam ser enfrentadas na escola e fora dela ‐ ou glorificar a pobreza, mas reconhecer o bom combate da Educação travado nas circunstâncias em que ele é mais difícil. A isso se chama paz.

domingo, 3 de julho de 2011

HISTÓRIA ATRAVÉS DE IMAGENS

Suicídio coletivo da Seita de Jim Jones

Corcovado antes do Cristo Redentor

O Barão Vermelho

Billy The Kidd

Bonnie e Clyde

Chaplin e Ghandi

Che Guevara morto

Chuck Norris e Bruce Lee

Evolução da Coca-cola

Assassinato do Líder Chinês do Kuomintag

Dubai ontem

Dubai hoje

Boletim do Einstein

Elvis Morreu!

Não me mate!

Rara imagem da Guerra do Paraguai

Suposta imagem de Hitler morto

O 1º Macdonalds

Trajes de banho no inicio do Século XX

Olha o Sílvio Santos aí gente!

IMAGENS QUE FALAM

Cinzas em Bariloche

Veja porque é necessário não voar....

A mãe natureza não perdoa...

Cinzas...

Bariloche