quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

ENCRUZILHADA


O mundo encontra-se numa encruzilhada. Este conceito, diferentemente da palavra crise, indica que estamos diante de uma bifurcação da trajetória humana, diante da qual é necessário tomar uma decisão. Encruzilhada pressupõe uma parada para a reflexão, seguida de escolha, de uma opção.
Tomemos como exemplo o caso das fontes energéticas. Pouco a pouco, cresce a consciência de que os combustíveis fósseis – carvão, gás e petróleo – não são renováveis nem inesgotáveis. Além disso, sua queima prolongada vem emitindo toneladas e toneladas de poluentes na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Há tempo os cientistas vêm trabalhando para encontrar fontes alternativas de energia. Seus esforços, entretanto, salvo raras exceções, convergem para os agrocombustíveis, seguindo a via mais à mão e mais cômoda.
Não é difícil dar-se conta que essa opção, cedo ou tarde, entrará em rota de colisão com a produção de alimentos. Também deve bater de frente com a consciência ecológica das últimas décadas. O volume e a velocidade do modelo de produção e consumo, desencadeado pela Revolução Industrial e pela tecnologia, exigirá cada vez mais energia, e esta vai acabar disputando as terras agricultáveis, seja com os alimentos seja com a preservação ambiental.
É aqui que entra em jogo a encruzilhada. Concretamente, continuaremos mantendo o ritmo acelerado da produção, ou optaremos por combater a miséria e a fome dos cerca de 900 milhões de pessoas que, segundo a FAO, ingerem por dia menos calorias do que o necessário? Seguiremos com esse modelo de crescimento, concentrador e excludente ao mesmo tempo, ou podemos pensar em uma civilização mais justa, solidária, sóbria e sustentável? Incorporaremos mais e mais terras à produção de vegetais para o bio-combustível, privilegiando o transporte privado das classes médias e altas, ou utilizaremos essas terras para a produção de alimentos, investindo no transporte coletivo de qualidade? Em termos metafóricos, vamos encher tanques de carros ou estômagos vazios?
Muitos insistem em dizer que não há encruzilhada nenhuma e que esse discurso é alarmista. A história se encarregará de mostrar quem está com a razão. De qualquer modo, por sua capacidade de produção agrícola, o Brasil tem um papel decisivo diante dessas perguntas. Papel decisivo tem igualmente o G8 e o G20, respectivamente grupo dos países ricos e dos países emergentes. O que é mais importante, crescimento a qualquer preço ou distribuição eqüitativa das riquezas? Para onde iremos?

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