sábado, 27 de dezembro de 2008

Vende-se Tudo - Martha Medeiros




No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: _ Que coisa triste ter que vender tudo que se tem. _Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida. Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma . No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros. Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida. Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile . Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Caído na calçada - Davi Coimbra

Ontem saí de casa mais cedo do que o normal, a temperatura era amena de primavera, o dia estava amarelo e azul, do som do meu carro se evolava o rock suave da Rádio Itapema e eu me sentia realmente bem. Estacionei numa rua quase bucólica do Menino Deus e vi que ali perto um catador de papel puxava sua carrocinha sem pressa.Era magro e alto, devia andar nas franjas dos 50 anos e tinha a pele luzidia de tão negra. Ao seu lado saltitava um menino de, calculei, uns quatro anos de idade, talvez menos. Devia ser o filho dele, porque o observava com um olhar quente de admiração, como se aquele homem fosse o seu herói. Bem. Ao menos foi o que julguei, certeza não podia ter. Já ia me afastar quando, por entre as grades da cerca de uma creche próxima, voou um brinquedo de plástico. Um desses robôs cheios de luzes e vozes, que se transformam em nave espacial e prédio de apartamentos, adorado pelas crianças de hoje em dia. Algum garoto devia ter atirado o brinquedo para cima por engano, ou fora uma gracinha sem graça de um amigo.
O menino que era dono do brinquedo colou o rosto na grade como se fosse um presidiário, angustiado. O filho do catador de papel correu até a calçada, colheu o robô do chão e não vacilou um segundo: retornou faceiro para junto do pai, o brinquedo na mão, feito um troféu.. Olhei para o menino atrás da cerca. Estranhamente, ele não falou nada, não gritou, nem reclamou. Ficou apenas olhando seu brinquedo se afastar na mão do outro, os olhos muito arregalados, a boca aberta de aflição. Muito orgulhoso, o filhinho do catador de papéis mostrou o brinquedo ao pai. O pai olhou. E fez parar a carrocinha. Largou-a encostada ao meio-fio. Levou a mão calosa à cabeça do filho. E se agachou até que os olhos de ambos ficassem no mesmo nível.
A essa altura, eu, estacado no canteiro da rua, não conseguia me mover. Queria ver o desfecho da cena. O pai começou a falar com o menino. Falava devagar, com o olhar grave, mas não parecia nervoso. Explicava algo com paciência e seriedade. O menino abaixou a cabeça, envergonhado, e o pai ergueu-lhe o queixo com os nós do dedo indicador. Falou mais uma ou duas frases, até que o filho balançou a cabeça em concordância.
A seguir, o menino saiu correndo em direção à creche. Parou na grade, em frente ao outro garoto. Esticou o braço. E, em silêncio, devolveu-lhe o brinquedo. Voltou correndo para o pai, que lhe enviou um sorriso e levantou a carrocinha outra vez. Seguiram em frente, o pai forcejando, o filho ao lado, agora não saltitante, mas pensativo, concentrado. Então, tive certeza: aquele olhar com que o menino observara o pai era mesmo de admiração, ele era de fato o seu herói.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Crise econômica - Maria Bordin Tarter - 2º ano


Graças a uma crise no sistema bancário dos Estados Unidos da América, este ano, várias quedas nas bolsas e muitas dívidas em todo o mundo estão acontecendo. Os empréstimos estão subindo, muito caros e muitos difíceis de serem conseguidos. Só resta as empresas procurarem outra forma de financiamento. O dólar está aumentando cada vez mais, ás vezes baixa, mas muito pouco.
O mercado está cada dia mais difícil, as dívidas tendem a aumentar. Muito dinheiro está na ‘’mão’’ de empresas que são privadas, e se, as empresas forem de algum modo renovar suas dívidas, arcarão com taxas muito mais altas de juros. Após algumas quedas na moeda americana, o dólar simplesmente está sendo muito valorizado, com algumas quedas ‘’normais’’ mas sempre volta a se valorizar rapidamente. A queda nas bolsas afeta a economia drasticamente, muitas pessoas perderam grande quantidade em dinheiro que investiram na bolsa. Há por alguns certa expectativa que o crescimento mundial diminuirá, e isso em alguns países já é visível. Se o valor das commodities caírem demais, as empresas que exportam serão as mais afetadas. As commodities minerais e agrícolas estão caindo.
Os bancos brasileiros encontram no momento taxas com valores altíssimos, para empréstimos no exterior. Muitas famílias estão passando por pequenas ou grandes dificuldades. Mas Muita coisa ainda está acontecendo.

"Solifluxão"

Parte do solo do estado de Santa Catarina está desmanchando. A afirmação é do professor do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense, Júlio César Wasserman, em entrevista na quinta-feira (27) à Rádio Nacional, Rio de JaneiroO especialista esclareceu que o desabamento de terra ocorrido nas encostas de cidades do estado devido às fortes chuvas é um processo chamado solifluxão. Segundo ele, na maior parte das vezes o fenômeno acontece devido ao desmatamento das encostas. "Quando se tem ocupação de favelas ou residências com pouca estrutura nessa áreas, esse processo vai ocorrer", disse. Ele explicou que a espessura do solo das encostas é relativamente reduzida e que quando há chuvas, as águas penetram até a rocha sã (tipo de rocha que não virou solo). Por esse motivo, a terra ultrapassa sua capacidade de absolver essa água. Fato acontecido em Santa Catarina. "A formação é como se fosse uma manteiga derretendo em um bloco de gelo", exemplificou. Para o professor, o papel da Defesa Civil no momento, de identificar as áreas de risco nos estado, deveria ter sido realizado antes. Como exemplo de prevenção, Wasserman citou os trabalhos de conscientização da população feitos nas cidades de Petrópolis e Teresópolis, no Rio de Janeiro. "Quando atinge uma determinada quantidade de chuva, eles mesmos tomam a iniciativa de abandonar a casa e se instalarem em outros locais", contou. O pesquisador também destacou que, além de perder as casas, muitas famílias deverão perder os terrenos onde as moradias estavam construídas, já que as áreas desapareceram no meio da enxurrada. De acordo com ele, nos locais em que o solo se acomodar, será possível fazer uma análise geotécnica. Nesses casos, as famílias serão orientadas sobre como reconstruir suas casas. Para ele, no entanto, o quadro visto na catástrofe é de barrancos desmoronados e nessa situação a recuperação do terreno será praticamente impossível. "O custo para se construir uma casa pendurada em um barranco é muito alto. Essas pessoas infelizmente vão perder o terreno", afirmou. Na opinião de Wasserman , a responsabilidade pelos prejuízos é do estado. "Acho que existe uma grande responsabilidade do estado em ter legalizado esse terreno. Mesmo nas situações de invasão. Acho uma irresponsabilidade o fato de o estado não ter controlado a ocupação nessas áreas de risco", criticou. (Fonte: Radiobrás)

ENCRUZILHADA


O mundo encontra-se numa encruzilhada. Este conceito, diferentemente da palavra crise, indica que estamos diante de uma bifurcação da trajetória humana, diante da qual é necessário tomar uma decisão. Encruzilhada pressupõe uma parada para a reflexão, seguida de escolha, de uma opção.
Tomemos como exemplo o caso das fontes energéticas. Pouco a pouco, cresce a consciência de que os combustíveis fósseis – carvão, gás e petróleo – não são renováveis nem inesgotáveis. Além disso, sua queima prolongada vem emitindo toneladas e toneladas de poluentes na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Há tempo os cientistas vêm trabalhando para encontrar fontes alternativas de energia. Seus esforços, entretanto, salvo raras exceções, convergem para os agrocombustíveis, seguindo a via mais à mão e mais cômoda.
Não é difícil dar-se conta que essa opção, cedo ou tarde, entrará em rota de colisão com a produção de alimentos. Também deve bater de frente com a consciência ecológica das últimas décadas. O volume e a velocidade do modelo de produção e consumo, desencadeado pela Revolução Industrial e pela tecnologia, exigirá cada vez mais energia, e esta vai acabar disputando as terras agricultáveis, seja com os alimentos seja com a preservação ambiental.
É aqui que entra em jogo a encruzilhada. Concretamente, continuaremos mantendo o ritmo acelerado da produção, ou optaremos por combater a miséria e a fome dos cerca de 900 milhões de pessoas que, segundo a FAO, ingerem por dia menos calorias do que o necessário? Seguiremos com esse modelo de crescimento, concentrador e excludente ao mesmo tempo, ou podemos pensar em uma civilização mais justa, solidária, sóbria e sustentável? Incorporaremos mais e mais terras à produção de vegetais para o bio-combustível, privilegiando o transporte privado das classes médias e altas, ou utilizaremos essas terras para a produção de alimentos, investindo no transporte coletivo de qualidade? Em termos metafóricos, vamos encher tanques de carros ou estômagos vazios?
Muitos insistem em dizer que não há encruzilhada nenhuma e que esse discurso é alarmista. A história se encarregará de mostrar quem está com a razão. De qualquer modo, por sua capacidade de produção agrícola, o Brasil tem um papel decisivo diante dessas perguntas. Papel decisivo tem igualmente o G8 e o G20, respectivamente grupo dos países ricos e dos países emergentes. O que é mais importante, crescimento a qualquer preço ou distribuição eqüitativa das riquezas? Para onde iremos?