terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

GESTÃO DA EDUCAÇÃO: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA DA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO

O pressuposto deste trabalho assenta-se na convicção de que, na crise histórica em que se vive, o mundo está sendo pautado pelo ideário pós-estruturalista, pós-industrial, pós-moderno e neoconservador, quando a crise estrutural do capitalismo desenvolve um individualismo que em suas mais diferenciadas formas de manifestação apresenta-se como “tudo vale e tudo pode” desde que se tire proveito. Ora, se tudo vale e tudo pode, nada mais vale, nem os seres humanos nem a humanidade como um todo!
Este pressuposto exige que se examine as contradições que, por conseqüência, pautam a educação, a sua gestão e as estratégias que utiliza, na ampla sociedade afetada por esta “direção”. Neste contexto e, a partir desse pressuposto, é que se examinam as assessorias na educação e a sua dimensão ética.
A apreensão adequada da contradição entre trabalho social e relações de produção no interior da “crise estrutural da forma capital” a que se refere Mészáros (1995) permite entender porque permanece válida a tese da centralidade do trabalho e, ao mesmo tempo, permite evidenciar que a crise do capital e da forma que assume o trabalho quando subordinado à relação capital-trabalho abstrato, trabalho alienado, trabalho assalariado é uma crise de natureza e conseqüências diversas (Frigotto, 2002, p. 66). Para Mészáros, o capital esgotou sua capacidade civilizatória e agora tende a ser mera destruição dos direitos duramente conquistados pelos trabalhadores. Tal constatação e as contradições vividas na crise apontada na epígrafe acima, nos fazem constatar que, de um lado, a ideologia da globalização e, de outro, a perspectiva mistificadora da reestruturação produtiva embasam, no campo da educação, a nova vulgata da pedagogia das competências e a promessa da empregabilidade. À exacerbação do individualismo , na contemporaneidade somam-se os argumentos fundados no credo do pós-modernismo que realça as diferenças (individuais) e a alteridade de forma conveniente ao capital. A diferença e a diversidade, dimensões importantes da vida humana, mascaram a violência social da desigualdade e reafirmam o mais canibal individualismo onde tudo vale e tudo pode e, porque tudo vale e tudo pode, nada mais vale. Como já foi escrito em outro lugar, "....as expressões “um grito de socorro” e “uma mulher acena pedindo ajuda” que eram questões humanas prioritárias de serem atendidas, tais questões, que continuam a ser muitíssimo importantes, ainda hoje e sempre, contraditoriamente deixaram de ser “questões” e passaram a ser, junto com tantos e tantos outros acontecimentos gravíssimos que ocorrem diuturnamente, “simples fatos” que se “amontoam” na “vala comum” do insignificante, do banal, no mundo globalizado dos indiferentes a tudo que não trouxer proveito pessoal. Falo da profunda e oportuna “vala comum” do insignificante, do banalizado onde são depositados tudo e todos, o conjunto da humanidade, porque não possui mais, valor algum. O humano, a vida humana e as “coisas da vida humana” tornaram-se banalizadas, naturalizadas porque perderam seu verdadeiro sentido!" (FERREIRA, 2003, p. 18).
Esta crise estrutural, profunda, do próprio sistema capital que afeta – pela primeira vez em toda a sua história – o conjunto da humanidade, coloca para as políticas educativas, a educação e a sua gestão, assim como para os seus responsáveis profissionais a questão de repensar os princípios humanos e a dimensão ética do trabalho educativo em todas as suas dimensões. Uma das contradições que ressalta do exposto acima é tanto o anseio pela liberdade consciente dos seres humanos como a dominação que se impõe pelas determinações do atual momento histórico quer na luta pela sobrevivência, quer na luta pelo poder.
A democracia real continua a ser o horizonte e realidade de maior anseio em todos os “cantos” do planeta. Todavia, contraditoriamente, alucinada pela intermediação da mídia como instrumento de poder, nesta “aldeia global” a população mundial vê um mundo diferente da realidade, na teia de relações e mediações que a tecnologia criou e explora conforme os interesses mais diversificados e contraditórios. E, por esta “teia” fenomenal, a democracia real como anseio, se perde nos discursos ideológicos e nas estratégias controladoras e manipuladoras do capital internacional.
Sabe-se que a história humana é marcada por certas “descontinuidades”, não se desenvolvendo de uma forma uniforme. As transformações hodiernas e os modos de vida que a contemporaneidade fez surgir afasta-nos de todos os tipos tradicionais e pretendidos de organização social, de uma forma sem precedentes. Tanto em extensividade como em intensividade, as transformações científico-tecnológicas, econômico-sociais, ético-políticas, culturais e educacionais, na contemporaneidade, tornaram-se mais profundas do que a maior parte das mudanças características de todos os períodos históricos até então vividos. Tanto no plano da extensividade como em termos de intensividade, serviram para estabelecer formas de interligação social à escala do globo que vieram, contraditoriamente possibilitar e impossibilitar acessos e melhoria de vida e alterar algumas das características mais íntimas e pessoais da nossa existência cotidiana. (FERREIRA, 2003).
A economia globalizada desenvolve-se através de atividades estratégicas fundamentais, como a “inovação”, o capital e a gestão da empresa, que funcionam em escala planetária em tempo real “e ao vivo” (CARNOY & CASTELLS, 1993; CASTELLS, 1996; TOLDA, 2001; SOUSA SANTOS, 2001) através dos recursos tecnológicos proporcionados pelas telecomunicações, sistemas informáticos, microeletrônica e redes informatizadas. Uma das principais características da nova “era do conhecimento” nos dizeres de Toffler (1999), é a aceleração dos processos de mudança, das instituições, das empresas, da cultura, das organizações do Governo. Nas duas últimas décadas, a geografia provou que os espaços são socialmente construídos e que, também, as relações são socialmente construídas (GREGORY & URRY, 1985; THRIFT, 1996; MASSEY, 1992)prioritariamente sob a égide do capital internacional, do fundamentalismo e do terrorismo.

By Naura Ferreira

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