O dilema de Alice
Gato: Isso depende muito do lugar para onde você quer ir.
Alice: Não me importa muito onde.
Gato: Nesse caso, não importa por qual caminho você vá.
Gato: O que importa é você ter força para chegar lá.
Quando se aproxima a conclusão do ensino médio para muitos
brasileiros é dada a largada na corrida em busca da aprovação no vestibular, a
porta de entrada para a universidade e, na vida dos jovens, um passo importante
para o futuro. Nesse momento começam também as neuroses mais acentuadas, as
crises de ansiedade e as expectativas que tomam conta dos vestibulandos e fazem
desse processo de seleção um momento cercado de angustias e incertezas.
Nas últimas décadas cresceu consideravelmente a concorrência
nas principais instituições públicas de ensino superior, e por outro lado
aumentaram também as facilidades de se conseguir uma vaga mesmo em universidades
privadas. Cresceu junto o “mercado do vestibular” e com ele cursinhos, revisões,
materiais de apoio e tudo o que se possa imaginar, isso sem falar das escolas
que oferecem turmas de ensino médio e que passaram a investir pesado na
preparação para o vestibular. Além de tudo, há pouco tempo o Enem, a famosa
prova de avaliação do ensino médio, passou a ser também uma porta de entrada ao
ensino superior.
Com toda essa gama de possibilidades diante de um jovem que
beira aos 17 ou 18 anos, surge uma grande questão que tem ganhado força nos
últimos anos: será que nessa idade já é possível ter certeza daquilo que se quer
fazer pelo resto da vida? A vida exige continuamente respostas de nós, e todas
as nossas respostas dependem da nossa escolha essencial, do nosso primeiro
“sim”, por que só a partir dele podemos dizer “não”.
A falta de motivações suficientes leva, de fato, muita a gente
a desistir pelo meio do caminho, ou até mesmo a se perder nele, muitos
universitários que abandonam ou trocam de curso e muita gente infeliz na sua
própria escolha. É preciso saber aonde se quer chegar por que são muitos os
caminhos, porém se não se sabe aonde se quer ir qualquer caminho serve, lembra o
Gato de Cheshire do clássico infantil “Alice no País das
Maravilhas”.
A dinâmica de mundo hoje é a “sociedade do fast food”,
tudo se dá de maneira incrivelmente veloz, inclusive as escolhas. E há quem diga
que o importante não é, em si, entrar na universidade, isso é uma idéia que vem
depois, o importante mesmo é passar no vestibular, e que os planos e projetos
têm de estar de acordo com o nível de vida que se quer ter, o que leva muita
gente a procurar os cursos de maior visibilidade no mercado simplesmente para
construir carreira e ganhar muito dinheiro, mas isso não é tudo.
É bem verdade que as possibilidades são muitas e cada dia
aumentam mais, e são como aquela garotinha a beira da praia recolhendo conchas,
quando avista a mais bela estrela-do-mar é incapaz de pega-la, pois já está com
as mãos cheias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário