sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ESTÔMAGO FRIO

Iva é a vó da Susane. Mais mãe do que vó, agora pouco importa, visto que a considero também minha vó e todos moramos juntos. A casa da Duque é fria, lembra muito o seminário lá de Viamão e um episódio da história. Bah! Que vício! Tudo tem que virar aula! Mentira, tudo é uma aula. Pena que poucos enxerguem a vida dessa maneira. Para estômago frio!
Pois bem. Na guerra fria entre americanos e soviéticos, éramos expectadores torcendo para que nenhum ganhasse, porque todos iriam acabar perdendo. O enredo era grande e a novela muito longa. Aqui no Brasil vivíamos os anos dourados, a euforia desenvolvimentista, no ano que nasci o tricampeonato mundial, a ditadura, a guerrilha do Araguaia, o sítio do pica-pau amarelo que valia a pena assistir, a vila Sésamo, mais novelas e a promessa de que tudo ia mudar. Veio a crise do petróleo e o Proálcool salvador, a anistia e a volta do Brizola. Lula era operário (ou quase isso) das massas desvalidas, tinha desfile de sete de setembro com aquele uniforme de calça de tergal azul marinho e camisa branca com gravata vermelha com o emblema do colégio e o “must” era participar da banda, onde as gurias olhavam pra gente com maior atenção.
Alguém fez uma reunião secreta para fundar o PT ou algo parecido e é óbvio que alguém dedou e aí todo mundo foi preso. Essa imagem já correu alguns milímetros de filme pelo mundo afora e todo mundo diz que viu, mas não viu. Iva diz que é intriga da oposição, que um dia a verdade escondida no castelo da finada Joaninha Assis Brasil virá e os interesses da nação vão prevalecer sobre a vontade individual. Por que dei a ela a biografia do Briza? Que medo! Todos tinham medo que alguém dedasse nossas estripulias, das nossas “espionagens” e dos planos secretos. Grandes planos para roubar goiaba, ver as pernas das gurias e o melhor de tudo ver “A Dama do Lotação”, proibido para menores.
Nessa mirabolante situação vivemos, ousamos, sobrevivemos e estamos aqui como “testemunhas oculares da história”. Quando a URSS deu os primeiros sinais de que estava no fim a utopia marxista, muitos defensores da liberdade capitalista urraram de felicidade! Os espiões agora eram só fantasia de cineastas, mas lhes aguardava o futuro... e nada como um dia após o outro. Francis Fukuyama alertava para o fim da história, mas ela não acabou. Iva diz que ela (a história) estava dormindo com os patrões e que após a queda de Berlim (do muro) resolveu criar vergonha na cara e se mostrar verdadeiramente, afinal os historiadores são gente séria. Tão séria que vão achar erros neste texto, mesmo sabendo que não é uma tira histórica. Mas, o melhor de tudo é justamente sua interpretação da guerra fria. Interpretação da Iva.
EUA e URSS viviam em briga porque um tinha um brinquedo maior que o outro e cada um queria ser mais que o outro. Ambos namoravam a mesma coisa: a supremacia mundial. Nesta ânsia aplexavam à Deus e ao Diabo, correram atrás de armas e empataram; correram ao espaço, os soviéticos ganharam; correram à lua e os americanos ganharam. Não faltava nada? Sim. As economias mundiais, as empresas, os empregos, as culturas, as pessoas, é a tal globalização. Em épocas de bigbrothers governamentais e leis antipalmadas, o que vocês queriam?
Mas tu és estômago frio! Não pode ouvir nada que já sai delatando tudo para os outros. Não te conto mais nada. Língua de trapo!

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